Em reunião com governadores, Pazuello diz que, se houver demanda e preço, ‘nós vamos comprar’ a ‘vacina do Butantan’
Declaração foi dada após governador de SP, João Doria, questionar se Ministério da Saúde pretendia comprar a CoronaVac. Imunizante desenvolvido por laboratório chinês em parceria com o Butantan está na 3ª fase de testes, em que a eficácia precisa ser comprovada antes da liberação pela Anvisa.
Em reunião com governadores na manhã desta terça-feira (8), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que, se houver demanda e preço, o governo federal irá comprar a “vacina do Butantan” (assista no vídeo acima).
A declaração foi dada após o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), questionar se o Ministério da Saúde pretendia adquirir a CoronaVac, que é produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, vinculado ao governo paulista. Na pergunta, Doria lembrou que o governo federal fechou acordo para comprar outros dois imunizantes.
“Já respondi isso a todos os governadores. Quando a vacina do Butantan – que não é do estado de São Paulo, tá, governador? Não sei como o senhor fala tanto como se fosse do estado. Ela é do Butantan. O Butantan é o maior fabricante de vacina do nosso país e é respeitado por isso”, afirmou Pazuello.
“O Butantan, quando concluir o seu trabalho e tiver sua vacina registrada, nós avaliaremos a demanda e, se houver demanda e houver preço, nós vamos comprar. […] Volto a colocar para o senhor [Doria] que o registro é obrigatório e, havendo demanda, havendo preço, todas as vacinas, todas as produções serão alvo de nossa compra.”
A CoronaVac ainda está na terceira fase de testes, estágio em que a eficácia precisa ser comprovada antes da liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O governo federal, no entanto, já liberou verba para outras vacinas que também estão na fase de testes e não foram registradas pela Anvisa.
Na mesma reunião desta terça, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), questionou Pazuello sobre um memorando que o Ministério da Saúde havia enviado com a intenção de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, mas que foi desautorizado por Jair Bolsonaro (sem partido) posteriormente.
“Senhores, esse memorando de entendimento, na mesma forma que o da Pfizer, ele é não vinculante. Ele é não vinculante e ele demonstra a nossa intenção [de compra]. Eu já tinha colocado aqui e repito: sempre que fizemos um memorando de entendimento, com terceiros, ele é não vinculante e ele depende de um grau de trabalho também da produtora”, disse Pazuello.
O ministro afirmou que a análise da compra da CoronaVac será enviada ao Palácio do Planalto após a conclusão dos estudos do Butantan.
“Ressalto que o Butantan é o parceiro número um de vacinas do nosso Ministério da Saúde, do SUS, isso não é nenhuma novidade. Nós aguardamos que seria feita a conclusão da fase três. E entendemos que a fase 1 e 2 é chinesa, ela não é brasileira, então isso tudo tem que ser passado para a Anvisa de uma forma muito clara. […] As coisas estão acontecendo. Quando nós tivermos tudo registrado e comprovado, como manda o figurino, vamos avaliar a demanda naquele momento para adquirir. Levar isso ao Palácio, levar isso a todos os órgãos, que ultrapassa minha posição, e vamos adquirir.”
Segundo o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, o relatório com os resultados sobre a eficácia da CoronaVac deve ser concluído até o dia 15 de dezembro.
Nesta terça, o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, disse que tanto o pedido para o uso emergencial e quanto o registro definitivo da CoronaVac devem ser enviados à Anvisa nos próximos dias.
“Vamos pedir o registro emergencial e o regular – este, sim, demora 60 dias. Temos que ter uma avaliação compassiva. É o que os outros países da Europa – especialmente o Reino Unido – [e] mesmo os Estados Unidos para uso de algumas medicações. Fez uso compassivo, é a compaixão, é isso que vai fazer uma força-tarefa de analisar isso e liberar de uma forma muito mais célere. Nós temos prioridade, a prioridade hoje é a vacina”, defendeu o secretário em entrevista à GloboNews.
O uso emergencial é diferente do registro sanitário. No caso deste último, trata-se da aprovação completa para uso de um imunizante. Já o registro definitivo depende de mais dados e da conclusão de todas as etapas de teste da vacina.
À Rádio CBN, o diretor do Butantan disse nesta terça que o governo não descarta judicializar um eventual atraso em um momento de emergência nacional.
Plano estadual
Nesta segunda-feira (7), o governo paulista anunciou o plano de vacinação com a CoronaVac, previsto para começar em 25 de janeiro de 2021.
De acordo com o anúncio, a primeira fase da vacinação será voltada ao grupo prioritário, que também inclui idosos com 60 anos ou mais, e dividida em cinco etapas. Nessa etapa, 9 milhões de pessoas deverão ser vacinadas.
Anvisa
Para que a vacina comece a ser distribuída, é necessário que o Instituto Butantan envie um relatório à Agência e que o órgão aprove o uso do imunizante.
De acordo com o Butantan, a previsão é que as informações sejam enviadas ainda em dezembro e que a Anvisa decida se a CoronaVac cumpre, ou não, todos os requisitos para aplicação até a primeira semana de janeiro.
A epidemiologista Natalia Pasternak destacou que o plano de imunização do governo estadual só será possível se a vacina se comprovar eficaz.
“O cronograma está bem montado, com os grupos prioritários bem definidos. Vai ser ótimo se a gente tiver, no prazo que eles querem, a vacina aprovada pela Anvisa. Como a CoronaVac ainda não publicou os dados de fase três de eficácia, nós não sabemos ainda nem o quanto ela protege e nem quanto tempo a Anvisa vai demorar para avaliar assim que esses dados forem submetidos”, afirmou Pasternak em entrevista à GloboNews nesta segunda.
“Se a Anvisa realmente liberar e der tempo de registrar a vacina, licenciar antes de 25 de janeiro, ótimo, inicia-se a vacinação. Mas estamos pendurados nos resultados da fase três e na liberação da Anvisa.”
Embates com o governo federal
Em outubro, o ministro da saúde, Eduardo Pazuello, chegou a anunciar, em uma reunião virtual com mais de 23 governadores, a compra do imunizante. Mas, menos de 24 horas depois, a aquisição foi desautorizada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Em 1° de dezembro, o governo federal divulgou a estratégia “preliminar” para a vacinação dos brasileiros. Naquele calendário apresentado, a CoronaVac não foi citada pelo Ministério da Saúde.
No dia seguinte, a Anvisa disse que irá aceitar que empresas desenvolvedoras de vacinas contra a Covid-19 solicitem o “uso emergencial” no Brasil e divulgou os requisitos para o pedido.
Por conta dos embates políticos, o governo de São Paulo oficializou o programa de vacinação estadual, que será realizado sem apoio do governo federal.
Matéria-prima
O governo de São Paulo já recebeu 120 mil doses prontas da CoronaVac, além da carga de insumos que pode virar até 1 milhão de doses.
Os insumos são os “ingredientes” necessários para a finalização da vacina no país. Caberá ao Butantan concluir a etapa final de fabricação.
Ao todo, pelo acordo fechado, o Butantan receberá do laboratório chinês 6 milhões de doses prontas para o uso e vai formular e envasar outras 40 milhões de doses.
Número mínimo de infectados
No final de novembro, o estudo da fase 3 da CoronaVac atingiu o número mínimo de infectados pela Covid-19 necessário para o início da fase final de testes.
A etapa permite a abertura do estudo e a análise interina dos resultados do imunizante. A expectativa é a de que os dados sejam divulgados pelo governo paulista nas próximas semanas.
Resposta imune e segurança
Um estudo feito com 743 pacientes apontou que a CoronaVac mostrou segurança e resposta imune satisfatória durante as fases 1 e 2 de testes.
A fase 2 dos testes de uma vacina verifica a segurança e a capacidade de gerar uma resposta do sistema de defesa. Normalmente, ela é feita com centenas de voluntários. Já a fase 1 é feita em dezenas de pessoas, e a 3, em milhares. É na fase 3, a atual, que é medida a eficácia da vacina.
Fonte: G1