Canção da redenção
Na porta do metrô um índio morreu para socorrer um gay,
Um negro morreu para socorrer um pobre,
Um pobre morreu para socorrer um negro,
que se via no gay,
que se via no negro,
que se via no índio,
que se via no pobre.
As pessoas corriam, as pessoas fugiam, as pessoas não morrem.
Elas assistiam, dois brancos matar um gay,
dois brancos matar um negro,
dois brancos matar um índio,
dois brancos matar um pobre.
Preso em sua agonia o país da alegria diante da dor se cala.
E a história se repete agora na televisão,
dois brancos matam um índio,
dois brancos matam um gay,
dois brancos matam um negro,
dois brancos mata um pobre.
E o velho trem renasce rendido da própria sorte,
transportando seus escravos,
de manhã para o trabalho e de tarde para a morte.
Amarrado pela mente, preso nas velhas correntes,
sem canção pra libertar, um trem chamado Brasil,
vive falando dos outros,
olhando tudo lá fora,
mas não sabe se olhar.
Poema para ouvir a canção da redenção – (César Félix)