Sete mentiras que se espalham na internet sobre vacinas contra covid
Desconfiança em torno da rapidez para o desenvolvimento dos imunizantes alimenta algumas teorias absurdas
Conforme as campanhas de vacinação contra a covid-19 se iniciam ao redor do mundo, ganham força as ondas de desinformação sobre o tema.
Há alguns meses, grupos antivacinas tentam desencorajar a população a não se imunizar contra a covid-19 com argumentos que variam entre criar medo e teorias da conspiração.
O R7 selecionou sete mentiras que frequentemente são reproduzidas nas redes sociais por pessoas que são contrárias à vacinação e mostra por que elas não fazem o menor sentido.
1. As vacinas surgiram rápido demais e, por isso, não são seguras
As vacinas contra covid-19 bateram recorde em tempo de desenvolvimento, mas isso não as torna menos segura que outras. Vacinas antigas também estão sujeitas a apresentar algum efeito adverso raro depois muito tempo de uso.
O desenvolvimento de tecnologias nunca antes usadas permitiu que laboratórios tivessem uma resposta rápida a uma emergência de saúde pública global que exigia essa velocidade.
A médica Mônica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários Vacinais da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), explica que a CoronaVac, por exemplo, utiliza uma tecnologia antiga.
“A vacina de vírus inativado… tem várias vacinas que já fazem parte do calendário há muitos anos, e as pessoas nunca pensaram nisso. […] Apesar da celeridade com que ela foi aprovada para uso emergencial, não ultrapassou nenhuma das fases que levam à aprovação.”
A vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, que também está sendo usada no Brasil, possui uma tecnologia baseada em vetor viral, mas que também já era estudada há muito tempo. O mesmo ocorre com as vacinas de RNA mensageiro da Pfizer/BioNTech e Moderna.
Mônica enfatiza o fato de a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ser “muito boa e muito rígida” nas análises de de medicamentos e imunobiológicos.
“Podemos ter segurança de que o que passou pela Anvisa é seguro e eficaz.”
2. Os efeitos colaterais das vacinas são imprevisíveis
Assim como qualquer medicamento que tomamos no dia a dia, as vacinas podem ter efeitos adversos, mas os mais frequentes já são conhecidos, porque todas elas cumpriram as etapas de estudos com grupos grandes de voluntários.
Quando um desenvolvedor pede o registro da vacina junto a um órgão regulador, como é o caso da Anvisa, ele precisa apresentar todos os estudos com o percentual de incidência de efeitos adversos.
Não houve até o momento, nas vacinas contra covid-19, reações graves não esperadas. Mesmo o choque anafilático ocorrido em algumas pessoas vacinadas no Reino Unido é algo previsível, uma vez que indivíduos saudáveis podem ter alergia grave a alimentos, produtos cosméticos, entre outras substâncias.
“Se houver algum evento adverso não identificado nos estudos de fase 3, vai ser lá na frente, com milhões e milhões de pessoas vacinadas, o que vai ser considerado extremamente raro, e o número de pessoas vacinadas permite que afirmar que elas são seguras. Várias coisas que a gente faz uso no dia a dia existem [riscos de] eventos adversos raros que podem acontecer e não tem como se prever”, explica a médica da SBIm.
3. Quem já teve covid-19 não precisa ser vacinado
Outro argumento repetido com frequência é que pessoas que já tiveram a covid-19 não precisariam se vacinar porque já desenvolveram imunidade.
Cada vez mais estudos mostram que os níveis de anticorpos podem cair meses após a doença.
“Se a gente considerar o risco de reinfecção, então é indicado que seja feita a vacinação. Até porque a imunidade que é provocada pela vacina é mais específica do que a imunidade produzida pela doença”, diz o infectologista Leonardo Weissmann, da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
É possível ainda que novas variantes do coronavírus, como as encontradas no Reino Unido, África do Sul e no Amazonas, consigam escapar até mesmo dos anticorpos de pessoas infectadas por outras cepas que estão em circulação há mais tempo.
Recentemente, a Fiocruz Amazonas detectou um caso de reinfecção pela nova variante em uma mulher de 29 anos. Casos como este estão no foco de preocupações da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Quem pegou covid-19 está liberado para tomar a vacina quatro semanas após o início dos sintomas, desde que eles já tenham desaparecido, acrescenta Mônica.
4. É inútil receber vacina com 50% de eficácia
A divulgação dos dados de eficácia da CoronaVac — de 50,38% para casos leves — foi o suficiente para que grupos antivacinas inundassem as redes sociais com informações distorcidas levando muita gente a crer que não valia a pena tomar uma vacina com apenas 50% de chance de proteção.
“A cada cem pessoas vacinadas [com a CoronaVac] e se infectam, só 50% vão desenvolver sintomas e comprovação laboratorial. A vacina protege 50% contra aparecimento de qualquer sintoma. Dos que adoecem, a vacina reduz em 78% a chance de a pessoa precisa de cuidados médicos. Destes 50% que tiveram a infecção com sintomas, a vacina evitou em 100% hospitalizações”, esclarece Mônica.
O principal objetivo da vacina é justamente reduzir o número de casos graves e hospitalizações. Quanto mais lotados os hospitais estiverem, mais difícil fica manter o sistema funcionando a ponto de garantir o atendimento adequado para casos de covid-19 e outras doenças.
A vacina da gripe aplicada em idosos todos os anos tem eficácia muito próxima à da CoronaVac e “ninguém nunca questionou”, observa a médica.
“Por que a gente vacina idoso contra a gripe? Ele não tem uma resposta imune tão boa à vacinação, mas diminui morte, hospitalização, diminui esses desfechos.”
5. Vacinas baseadas em RNA alteram o DNA de quem as recebe
Outras informações falsas que circulam pelas redes sociais envolvem também teorias da conspiração e ideias absurdas que são refutadas por qualquer cientista sério.
Uma delas é que as vacinas de RNA mensageiro, como da Pfizer/BioNTech e da Moderna — atualmente as mais eficazes contra a covid-19 — seriam capazes de alterar o DNA das pessoas para desenvolver doenças como câncer.
É preciso entender que o RNA mensageiro apenas instrui as células a produzirem a proteína do coronavírus que vai desencadear a resposta imunológica. Nada além disso.
Após esse processo, nossas células decompõem esse RNAm, e o organismo se livra deles, da mesma forma que os anticorpos se livram da proteína de pico.
O lado positivo é que os anticorpos e células de defesa — e estes sim são importantes — permanecem no corpo e vão atuar como linha de frente se o indivíduo vacinado vier a ser exposto ao vírus, evitando o desenvolvimento da covid-19.
“O RNA mensageiro é algo feito de DNA, mas não foi projetado para se integrar ao nosso DNA e não muda permanentemente nosso genoma e quem somos de forma alguma”, explica o médico Thaddeus Stappenbeck, presidente do Departamento de Inflamação e Imunidade do Instituto de Pesquisa Lerner da Clínica Cleveland, nos EUA, em artigo recente.
6. Vão usar as vacinas para implantar microchips na população
Uma das teorias que mais virou alvo de piadas é a de que o bilionário Bill Gates, cofundador da Microsoft e hoje filantropo, estava por trás do financiamento de vacinas para implantar microchips rastreáveis nas pessoas.
A Fundação Bill & Melinda Gates investiu milhões de dólares em várias pesquisas de vacinas, mas a ideia dos chips saiu de uma interpretação errada de uma fala do bilionário.
Em entrevista, ele se referiu ao fato de que no futuro poderia haver “certificados digitais” usados para saber quem se recuperou, quem foi testado para covid-19 e vacinado.
Ele se referia, no entanto, a uma tecnologia criada pela Fundação Gates de corante de ponto quântico.
À agência de notícias Reuters, Kevin McHugh, um dos principais autores do artigo de pesquisa “quantum dot dye”, confirmou que essa tecnologia não é um microchip ou uma cápsula implantável humana.
Em vez disso, é semelhante a uma tatuagem invisível, o que ajudaria a fornecer registros de vacinas de pacientes atualizados para profissionais em locais sem registros médicos.
Cabe ressaltar que nada disso está em uso na pandemia da covid-19 até o momento.
7. A China criou o vírus para vender vacinas
Faz pouco mais de um ano que o coronavírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, foi descoberto na cidade de Wuhan, na China.
Desde então, alguns virologistas vieram a público para alegar que o vírus havia sido criado em laboratório. Há quem diga que escapou acidentalmente do Instituto de Virologia de Wuhan, ligado à Academia Chinesa de Ciências.
No entanto, a maior parte de comunidade científica sustenta que é muito mais provável que o vírus tenha origem selvagem, tendo em vista que os primeiros casos estavam relacionados a um mercado de animais silvestres.
Além disso, coronavírus são muito comuns em morcegos — mas não que eles os transmitam diretamente a humanos.
No caso da SARS, o coronavírus do morcego encontrou um hospedeiro intermediário: a civeta. Na MERS, o vírus passou de morcegos para dromedários, na Arábia Saudita, antes de infectar humanos.
Ainda sem respostas claras sobre a origem da doença, a OMS enviou à China há algumas semanas uma missão de pesquisadores. Além do possível hospedeiro intermediário do vírus, o grupo quer confirmar os primeiros locais de infecção.
Vale ressaltar que amostras de esgoto de outras partes do mundo, inclusive do Brasil, mostram o SARS-CoV-2 presente em 2019 antes mesmo do primeiro caso ser reportado na China.
O argumento de que a China teria espalhado o vírus mundialmente e que já tinha vacina não tem lastro. O país sempre foi o maior fornecedor de matérias-primas para imunizantes, mas outros locais desenvolveram vacinas, como Estados Unidos, Reino Unido, Rússia e Índia.
Fonte: Notícias R7