Reflexão

Ética é vergonha na cara

Em uma corrida de Cross-country, o queniano Abel Muttai estava a poucos metros da linha de chegada, quando se confundiu com a sinalização, pensando que já havia completado a prova. Logo atrás vinha o espanhol Iván Anaya, que vendo a situação começou a gritar para que o queniano ficasse atento, mas Muttai não entendia o que o colega dizia. O espanhol, então, o empurrou em direção à vitória. Um jornalista perguntou então a Iván: – Por que o senhor fez isso? – Isso o quê? Ele não havia entendido a pergunta – e o meu sonho é que um dia possamos ter um tipo de vida comunitária em que a pergunta feita pelo jornalista não seja mesmo entendida -, pois não pensou que houvesse outra coisa a ser feita que não aquilo que ele fez. – Por que o senhor deixou o queniano ganhar? – Eu não o deixei ganhar, ele ia ganhar. – Mas o senhor podia ter ganho. – Mas qual seria o mérito da minha vitória? Qual seria a honra dessa medalha? O que minha mãe iria achar disso?

Mário Sérgio Cortella em “Ética e vergonha na cara”.

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