Jordânia, a empreendedora do Vale do Sol
Esta matéria faz parte da série “Mulher Protagonista”, produzida pela Prefeitura de Barueri em homenagem ao Dia Internacional da Mulher 2021. De 8 a 12 de março foram publicadas reportagens com foco no protagonismo da mulher barueriense.
Diz uma lenda irlandesa que quem caminhar até o fim do arco-íris encontrará um pote de ouro. Na versão barueriense uma senhora perseguiu uma cortina de fumaça incomodada com a fuligem que ela trazia para as roupas que estavam secando no varal.
Ao contrário do arco-íris, que não tem fim, ela chegou a um ponto viciado de descarte de madeiras do Vale do Sol na divisa com Jandira e lá encontrou o seu pote de ouro: geração de renda para si e para outras mulheres da periferia em situação semelhante.
As pessoas que causavam o incêndio nem souberam responder porque faziam aquilo e ela carregou para casa alguns pallets intactos antes que eles continuassem a comprometer o seu ganha-pão diário: a lavagem de roupas pra fora.
O que fazer com a madeira coletada então? Banquinhos, cofrinhos, caixinhas, casinhas de cachorro etc. Com que ferramentas? Serrote enferrujado, serra improvisada com motor de lavadora de roupa de baixa potência (tanquinho) e lixas doadas coladas em madeiras acopladas ao mandril de um ventilador.
Estamos falando de Jordânia Pereira da Silva, uma migrante que chegou da Bahia há 31 anos com uma filha de um aninho nos braços, pouquíssimo dinheiro no bolso e o endereço de uma parente distante que morava em Barueri.
Sustentabilidade
Ainda não se falava nisso no Brasil, e quem sabe até no mundo, mas Jordânia já a praticava. “Produzíamos em dias chuvosos e enchíamos o carrinho para vender em dias de sol”, lembra a mulher à frente do seu tempo.
Está estranhando o verbo produzir no plural? É que em pouco tempo naquele ano 2000 outras mulheres gostaram da ideia de ter alguma renda e formaram uma cooperativa informal que só tomou corpo anos depois que Jordânia conheceu alguns programas de inclusão social da Prefeitura de Barueri e passou a sonhar com a criação de uma organização nos moldes da Cooperyara (de reciclagem de lixo).
A Cooperativa Unindo Forças passou a existir formalmente em 2006. Na ocasião, o grupo tinha 16 mulheres e apenas dois homens. A qualidade dos produtos foi ganhando fama e duas grandes lojas de decoração passaram a comprar tudo o que é produzido (atualmente cerca de 1.200 caixotes da “linha feira”) todos os meses.
A produção já chegou a 2.200 unidades. “Temos capacidade para aumentar a produção, mas falta mão-de-obra. Alguns dos nossos cooperados se aposentaram e muita gente que chega aqui quer emprego, mas não quer trabalho”, queixa-se.
Viúva de marido vivo
Além das dificuldades naturais, Jordânia tinha um marido alcoólatra e que não trabalhava. Não agredia fisicamente a família, mas ameaçava e ofendia a todos. “Muitas vezes tinha que esperar que ele dormisse para poder voltar para casa com os meus filhos”, recorda.
Antes da Cooperativa, Jordânia chegou a acumular três atividades: passava o dia limpando frangos em um restaurante, trabalhava à noite em uma indústria de roupas de cama, mesa e banho e vendia frutas e verduras aos domingos em uma barraca de feira no Parque Imperial (muito distante do Vale do Sol). “Dormia somente nos fins de semana e durante as viagens de ônibus e trens que fazia”, declara.
Aplausos
Por receber muitos convites de ONGs e entidades governamentais, Jordânia é muito aplaudida nas palestras que faz por toda a Grande São Paulo, mas não se esquece do dia em que foi surpreendida e ovacionada naquele emprego noturno que tinha. Seu apelido lá era “Febem”.
O chefe reuniu todos os funcionários no saguão e entregou-lhe uma boa soma em dinheiro. A “vaquinha” foi suficiente para construir um barraco no Vale do Sol. Várias inundações ocorreram depois, mas nada disso a fez esmorecer e continuar a luta.
Mídia
Vários espaços já foram dedicados a ela e à cooperativa que preside no jornalismo impresso, na internet e na televisão. Já recebeu diversos prêmios e homenagens e foi finalista em concursos de mulheres empreendedoras patrocinados por grandes empresas de Curitiba e do Rio de Janeiro.
Jordânia, de 52 anos, tem quatro filhos, cinco netos e se casou novamente há três anos. Foi um evento muito concorrido pelos amigos e pelos irmãos de fé. Ela fala com muito orgulho das pessoas que publicaram a cerimônia no Youtube e de um dos netinhos (Paulo Henrique) que descreveu uma parte das suas ações numa redação escolar.
Estudando no horário noturno, formou-se recentemente em Serviço Social e pretende exercer a profissão em breve. “Estou somente aguardando a emissão do diploma”, afirma, entusiasmada. Alguém duvida que ela vá conseguir?
Esta matéria faz parte da série especial de reportagens que a Prefeitura de Barueri está produzindo
Fonte: Portal Barueri