Número de profissionais brasileiros qualificados cresce nos EUA
Dados fiscais americanos apontam que a concessão de vistos permanentes baseados em emprego ou trabalho sobe a cada ano
Conseguir um visto permanente de residência nos Estados Unidos, o famoso Green Card, parece uma meta inalcançável para a maioria do brasileiros. Mas para uma parcela de profissionais altamente qualificados, o sonho americano tem se tornado uma realidade cada vez mais recorrente. Essas pessoas se beneficiam de categorias específicas de visto, conhecidas como EB1 e EB2 NIW, destinadas a quem tem boa experiência em sua área de conhecimento e um histórico de contribuições e reconhecimentos na carreira.
O Itamaraty estima que cerca de 1,6 milhão de brasileiros vivam hoje em território norte-americano. Embora a comunidade brasileira no país seja bastante diversificada, com diferenças de perfil conforme a região, dados do Escritório de Assuntos Consulares do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos apontam a tendência de crescimento de Green Cards para os chamados “profissionais excepcionais” brasileiros. Em 2020, segundo números parciais do relatório fiscal americano, foram 1.899 permissões de residência permanente (vistos efetivamente concedidos ou mudanças de status).
“É um avanço que já vínhamos notando desde 2015, numa média de 10 a 18% ano a ano. De 2018 para 2019, o aumento foi de 29%. Ainda estamos aguardando os dados consolidados de 2020, mas acreditamos que também tenha havido um crescimento exponencial”, afirma o advogado Leonardo Leão, fundador e CEO da Leão Group, empresa de consultoria de imigração com sede na Flórida e escritórios em vários países.
Leão refere-se especificamente aos vistos EB1 e EB2 NIW, ambos baseados em trabalho ou qualificação profissional. “No caso do EB1, o candidato tem que ter habilidades extraordinárias naquilo que faz”, explica. Nesse caso, a Imigração impõe 10 requisitos (como ter projeção internacional, ter participado de bancas avaliadoras em sua área, ter publicações veiculadas no mundo etc) e é preciso atender a pelo menos três deles.
“Já o EB2 NIW é voltado para profissionais com grau avançado de estudos. A pessoa deve ter pelo menos mestrado, ou então bacharelado com cinco anos de experiência em sua área”, diz Leão. “Também é possível não ser bacharel, mas ter uma habilidade excepcional naquilo que faz. No EB2 NIW, é preciso atender três de sete requisitos.” Entre eles, estão cartas de recomendação de experts da área atestando a habilidade acima da média, média salarial compatível com um profissional de alto nível e fazer parte de uma associação profissional.
Na aplicação EB2 NIW também é necessário apresentar um plano de atuação nos Estados Unidos, que deve estar de acordo com os interesses do país. A sigla NIW significa, aliás, dispensa por interesse nacional (National Interest Waiver). “Nesse caso, as autoridades imigratórias americanas entendem que aquela pessoa vai trabalhar numa atividade em que há carência de mão de obra nos Estados Unidos e, por isso, a dispensam da necessidade de ter uma oferta de emprego”, explica o CEO da Leão Group.
Mudança de rota
Esse foi o caso da professora Cinthia Benatti Mignella, 34 anos, e do marido, Thiago Mignella, de 37, ambos de São Paulo, que estão nos Estados Unidos desde o final de 2016. Inicialmente, deram entrada em um processo imigratório com base no trabalho de Thiago. “Gastamos muito tempo e dinheiro, mas o processo não estava andando”, conta Cinthia. Grávida de oito meses em março de 2019, ela conheceu a Leão Group e descobriu que, dado o cenário daquele momento, seria mais viável fazer uma mudança de rota e pleitear o visto EB2 NIW com base na sua qualificação profissional.
Em meio à preparação de toda a nova documentação, nasceu o pequeno Nathan, hoje com 2 anos e 3 meses. ”Para nossa alegria, após pouco mais de 5 meses, fomos surpreendidos com a notícia de que nosso processo havia sido admitido pela imigração e que nossa permissão de trabalho e viagem havia sido aprovada”, lembra Cinthia. Mas essa era a etapa inicial do processo. “Logo depois, o mundo foi acometido pela pandemia, fator que praticamente paralisou todas as atividades da Imigração norte americana, postergando inúmeros processos correntes, inclusive o nosso”, afirma.
Este ano, com a pandemia já em um nível menos intenso, as rotinas nos EUA foram aos poucos retomadas. “Em março deste ano, recebemos a tão esperada notificação de que nosso processo havia sido finalmente aprovado pela Imigração”, diz Cinthia. No momento, a professora, o marido e o filho, que vivem em Deerfield Beach, ao sul da Flórida, estão na última fase do processo, em que são solicitados, por exemplo, exames médicos de todos os integrantes da família. Os documentos são analisados e, em seguida, o Green Card é liberado.
Rotina de muito trabalho
O dia a dia da família não é fácil. Cinthia é professora em uma escola que utiliza o Método Montessori, cursa mestrado na mesma área e dá aulas de língua portuguesa em uma fundação. Já Thiago tem uma empresa de prestação de serviços de som e iluminação para eventos, atua como consultor em uma companhia do ramo financeiro, é dublador e faz mixagem de áudios. “Uma frase que ouvimos muitas vezes aqui quando chegamos foi: ‘Os EUA são para todos, mas nem todos são para os EUA’. Aqui é onde o filho chora e a māe não vê. Vida real nāo é turismo todo dia. Nem tudo é Miami Beach”, alerta Cinthia.
Mesmo assim, a família está extremamente feliz e não pensa em voltar ao Brasil. “Apenas a passeio e para visitar os familiares e nossos inúmeros amigos”, diz a professora, que recomenda a outras pessoas que se arrisquem neste sonho. “Eu indico fortemente que busquem orientação profissional, se planejem, se organizem e tentem. Os EUA procuram incessantemente pessoas de caráter, com boa formação e know-how. É uma experiência extremamente preciosa para qualquer carreira.”
A busca por orientação é um passo importante para quem quer pleitear o Green Card. Para fazer um pleito imigratório não é obrigatoriamente necessário ter um advogado, mas a assessoria de um escritório especializado pode fazer toda a diferença. “É preciso entender o perfil de cada um e saber pedir, ou seja, saber pontuar o que as autoridades americanas querem ver. As assessorias, por exemplo, estão muito mais preparadas para elaborar um plano de atuação”, diz o advogado Leonardo Leão.
Não é um investimento barato. Segundo o CEO da Leão Group, é necessário desembolsar cerca de US$ 5 mil em taxas e traduções juramentadas, mais gastos de US$ 20 mil a US$ 30 mil com honorários. Também é um processo longo: após dar entrada no pedido na Imigração, a análise leva pelo menos dois anos – durante a pandemia, esse prazo tende a aumentar.
Fonte: R7