Reflexão

Procura-se um amigo…

“Procura-se um amigo, não é preciso que seja homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Deve saber compartilhar dores e alegrias, precisa saber falar e saber calar; e, sobretudo: saber ouvir. Tem que gostar de poesia, da madrugada, de música, do sol e da luz, criações de Deus. Deve ter um grande amor por alguém, ou então, sentir falta de não ter esse amor.

Procura-se um amigo que saiba guardar segredo, sem se sacrificar. Não é preciso ser de primeira mão, não é imprescindível ser de segunda; pode ter sido enganado, pode ter cometido faltas. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, pode ser pecador; mas… não deve ser vulgar. Tem que sentir os dias tristes e saber respeitá-los. Tem que saber renunciar em favor de alguém.

Procura-se um amigo que tenha um ideal, e no caso de não o ter, deve sentir o grande vácuo que isto deixa. Tem que ter ressonâncias humanas; Tem que ter vontade de integrar o mundo, e caso não tenha realizado, este não deverá ser um dos seus principais objetivos na vida, sendo que o seu principal objetivo seja: ser amigo. Deve sentir misericórdia das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve ter pena dos que tiveram e perderam coisas queridas. Deve gostar de crianças. Tem que ser Dom Quixote, sem, contudo desprezar Sancho.

Procura-se um amigo para passear, gostar dos mesmos gostos, ouvir música, ler a Bíblia. Um amigo que se entristeça com uma separação, que fique comovido com todo coração e deseja nossa volta para breve. Que não se comova quando chamado de amigo.

Procura-se um amigo para não enlouquecer; para se poder contar o que viu de belo e de triste durante o dia, dos sustos, das tristezas e das alegrias. Um amigo que não fale em políticas; que saiba conversar de coisas simples; do orvalho, das chuvas e das recordações da infância. À que se diga porque tal coisa é assim; e que se possa dizer coisas íntimas. Um amigo que não tenha medo de apontar um defeito, porque todos nós temos, e que quando o faça, saiba como fazê-lo.

Procura-se um amigo que não viva debruçado no passado, mas que relembre, em busca de boas e más memórias; que saiba dar esmolas a quem mereça, e, que quando der faça às escondidas, não para que os outros saibam, mas somente o Senhor Deus que está nos céus; que nos bata no ombro sorrindo ou chorando, mas nos chame de amigo.

Procura-se um amigo que nos diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo e para não fazê-lo sofrer.

Procura-se um amigo que creia em nós; que não seja irônico: que saiba nos defender de coração livre e com toda a franqueza quando formos atacados.

Procura-se um amigo para se ter consciência de que ainda se vive.

Por favor, procura-se um amigo! Mas um amigo que, principalmente, saiba agradecer a Deus pelo que tem.”

Autor: Vinicius de Moraes

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