Japão condena americanos que ajudaram Carlos Ghosn a fugir
Os Taylor receberam US$ 862,5 mil do brasileiro para preparar a operação e depois mais US$ 500 mil em bitcoins para pagar os gastos com advogados, segundo a investigação.
Dois americanos foram condenados nesta segunda-feira (19) por um tribunal de Tóquio por terem ajudado o brasileiro Carlos Ghosn, ex-CEO da Renault e da Nissan, a fugir do Japão no fim de 2019.
Michael Taylor, de 60 anos, foi condenado a dois anos de prisão e seu filho Peter Taylor, de 28 anos, a um ano e oito meses. Eles podiam ser sentenciados a até três anos.
Em junho, eles admitiram pela primeira vez ter ajudado na fuga. O libanês George-Antoine Zayek (foto acima), também é acusado pela promotoria japonesa, mas segue foragido.
Os Taylor foram detidos pela Justiça americana em maio de 2020, com base em uma ordem de prisão japonesa, e extraditados em março deste ano. Eles chegaram a recorrer à Suprema Corte dos EUA para evitar a extradição, alegando que poderiam enfrentar condições similares à tortura no Japão.
Michael é um veterano do exército americano e ex-membro das forças especiais do país.
Fuga de Ghosn
Carlos Ghosn fugiu do Japão escondido em uma caixa de equipamento de som. Ele tem nacionalidade brasileira, libanesa e francesa e havia sido detido em 2018 em Tóquio por acusações de irregularidades financeiras.
Ele estava em liberdade condicional e aguardava o julgamento quando conseguiu escapar das autoridades japonesas em 29 de dezembro de 2019 e embarcar em um avião privado para o Líbano, que não extradita seus cidadãos.
Ele primeiro usou o Shinkansen, o trem de alta velocidade japonês, para ir de Tóquio a Osaka. Depois, evitou o controle alfandegário do aeroporto internacional de Kansai, pois na época a inspeção de bagagem não era obrigatória para passageiros de voos privados.
O avião seguiu para Istambul, na Turquia, onde o ex-executivo da Nissan e da Renault embarcou em outra aeronave alugada e viajou até Beirute. Ele nega as acusações e diz que fugiu para se livrar da perseguição da Justiça japonesa.
Carlos Ghosn fala pela primeira vez após fuga para o Líbano
O julgamento
Os advogados dos Taylor haviam pedido que as condenações tivessem penas que pudessem ser substituídas por outras medidas de restrição.
O argumento era que Ghosn tinha sido o mentor de toda a operação e que pai e filho já passaram dez meses em prisão provisória nos EUA, antes da extradição.
Mas o juiz Hideo Nirei destacou nesta segunda que a fuga foi um “crime grave”, porque a perspectiva de ver Ghosn julgado no Japão praticamente não existe mais.
“Os dois acusados conseguiram com êxito uma fuga ao exterior sem precedentes e tiveram um papel proativo nesta operação”, afirmou o juiz.
Dinheiro como motivação
Nirei disse ainda que pai e filho foram motivados pelo dinheiro, não porque Michael Taylor tem, por meio de sua esposa, relações distantes de parentesco com a família de Ghosn no Líbano.
Os Taylor receberam US$ 862,5 mil de Ghosn para preparar a operação (mais de R$ 4,4 milhões na cotação atual) e depois mais US$ 500 mil em bitcoins para pagar os gastos com advogados (cerca de R$ 2,5 milhões), segundo a investigação.
Outros réus e condenados
Em fevereiro deste ano, três pessoas vinculadas à fuga foram condenadas a mais de quatro anos de prisão na Turquia (um funcionário de uma empresa de aviões e dois pilotos).
Greg Kelly, ex-diretor jurídico da Nissan que foi detido no mesmo dia que Ghosn em novembro de 2018, é atualmente o único no banco dos réus no Japão. O americano de 64 anos pode ser condenado a até 10 anos de prisão.
Fonte: G1