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Primárias, os Fernández e a smartmatic

Todos já sabem que a chapa de esquerda Alberto Fernández / Cristina Kirchner foi a mais votada nas eleições primárias da Argentina e derrotou o atual presidente Maurício Macri com uma vantagem de mais de 15 pontos percentuais (47,65% dos peronistas, ante 32,08% de Macri). E também todos já sabem do impacto econômico causado pela vitória da chapa dos Fernández: o Peso desvalorizou 25%, a Bolsa perdeu 23,8 bilhões de dólares em valor de mercado com a queda de 38%, os juros vão subir… Pois é! Cristina Kirchner e Alberto Fernández podem dizer que fizeram a proeza de querar a Argentina em 12 anos de governo e voltar a quebrar em um dia de primária! O cenário para os próximos meses, e principalmente para os próximos anos, caso se confirme a vitória da chapa dos Fernández é bem preocupante. Mas, mesmo que remota, há uma possibilidade de que esse resultado não seja tão irreversível quanto dizem.

Tendo em vista somente o impacto da vitória dos Fernández, não é nada improvável que uma parte dos eleitores da ‘Frente de Todos’ pense em mudar seu voto para as eleições de outubro. Mas além disso, para entender a desastrosa derrota de Macri, é importante considerar alguns pontos sobre essas primárias em comparação com as primárias de 2015 e assim tentar esperar algo das eleições de outubro:

-Em 2015, a coligação de Macri perdeu as primárias por 28,57% a 36,69% da então coligação governista ‘Frente para la Victoria’ com o candidato Daniel Scioli.
-Sérgio Massa e o ‘Frente Renovador’ ficaram em terceiro lugar nas eleições de 2015, com 21% dos votos nas eleições e 19,5% nas primárias. Hoje, Massa e seu partido apoiam a candidatura dos Fernández. E, somando os votos de Scioli e Massa nas primárias, o número é bem próximo dos 11,6 milhões obtidos pelos Fernández.
-Enquanto a coligação de Macri diminuiu em número de partidos e sua popularidade caiu, a quantidade de votos aumentou em um milhão, comparando-se com as primárias de 2015.
-Em 2015, entre as primárias e a campanha, a votação da coligação de Macri cresceu em 1,8 milhão de votos com aumento de 2,6 milhões de eleitores. Isso significa que Macri foi escolhido por 68% dos eleitores que deixaram de votar nas primárias.
-Nas primárias de 2015, a participação do eleitorado foi de 74%. Em 2019, de 75%. Se o percentual de participação nas eleições de outubro for parecido com o de 2015, aproximadamente 81% dos argentinos habilitados devem ir às urnas. E a maior parte daqueles que não compareceram nas primárias devem escolher Macri devido ao cenário desastroso que se desenha na vitória dos Kirchner.

A tendência, infelizmente é que os argentinos, mais uma vez, ao invés de agarrar uma corda que pode ajudar a tirá-los do buraco, preferirão cavar mais 20 metros elegendo Fernández e Kirchner. Mas que há possibilidade, mesmo que remota, de Macri reverter ou de ao menos levar as eleições para o segundo turno, há.

De novo, a Smartmatic

Mas há algo que me deixou com oito pulgas atrás da orelha nessas primárias. Na quinta-feira que antecedeu a eleição, Alberto Fernández disse que seu grupo desconfiava da Smartmatic e que criariam um sistema próprio para computar os votos da coligação. E para buscar elevar a confiança dos peronistas, conseguiram a liminar de uma juíza que impedia a divulgação dos resultados até que já estivessem apurados pelo menos 10% dos votos de Buenos Aires, Córdoba e Santa Fé.

No entanto, a Smartmatic é conhecida pelas manipulações eleitorais que elegeram os aliados de Fernández e Cristina, membros do Foro de São Paulo, dos quais os dois participam e tiveram a candidatura respaldada no último congresso.

Não é nenhuma novidade, mas sim estratégia, a esquerda acusar adversários do que eles mesmos fazem. Inclusive em eleições. Nos casos mais recentes, Hillary acusou Trump de se beneficiar com fake news e ajuda russa, quando ela é que disseminava fake news e tinha apoio russo, Haddad acusou Bolsonaro de disseminar fake news quando era o próprio Haddad e a esquerda que disseminavam fake news para tirar votos de Bolsonaro (E isso desde muito antes da campanha).

Agora, os Fernández dizem suspeitar da Smartmatic porque esta poderia beneficiar o presidente. Depois, com atraso, a Smartmatic, que sempre beneficiou os candidatos de esquerda, divulga um resultado com vantagem inesperada para os Fernández. É muita maldade suspeitar que aí tem coisa? Os fatos dizem que não!

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