Indícios de fraude nas primárias argentinas

Suspeitei que as primárias na Argentina fossem fraudadas na declaração do candidato Alberto Fernández, na última quinta, na qual alegava ter receio da Smartmatic. Me pareceu aquela velha estratégia da esquerda de acusar os outros, no caso o governo Macri, do que eles mesmos fazem.

Nas eleições americanas Hillary acusou Trump do que ela mesma fez com relação ao apoio russo, nas brasileiras Haddad acusou Bolsonaro do que ele mesmo fez com relação a notícias falsas, e se Fernández dizia estar receoso com eventuais fraudes, por que não suspeitar de que ele mesmo as estaria providenciando?

Pois bem. Na Argentina, inúmeros eleitores revelaram indícios de fraudes nas primárias. No Twitter, hastags como a #FraudePASO2019 e a #FraudeK estiveram entre os trending topics durante todo o dia. E junto a elas, os indícios das fraudes: inúmeros boletins dos votos de seções eleitorais sem votos para a coligação ‘Juntos por el Cambio’ de Macri, outras com votos em branco para as coligações de Macri e dos Fernández, outras com números de votos totais em coligações que não batiam com o total de votos registrados nos boletins e até depoimentos de pessoas que não conseguiram votar porque lhes disseram que já haviam votado em seu lugar.

O fato é que no site em que está divulgado o resultado das primarias (resultado2019.gob.ar) podemos comprovar que houve adulteração na apuração dos votos. Atentem-se às linhas de ‘Juntos Por El Cambio’ (135) e ‘Frente de Todos’ (136/503) dos informes.

Por exemplo, no informe acima: constam 264 votos em coligações, mas no site apenas 53 foram apurados. Nenhum para ‘Frente de Todos’ de Fernández e nem para ‘Juntos por el Cambio’ de Macri. Onde foram parar os outros 211 votos?

Nesta, a coligação de Macri aparece com nenhum voto. O número de votos em agrupações políticas aparece como 286. Mas, somando os votos nas coligações escritos no informe, o total é de apenas 167 votos. Onde estão os outros 119 votos? E, para complicar ainda mais a situação, a governadora e candidata a reeleição María Eugenia Vidal, aliada de Macri, tem 127 votos marcados neste boletim. Como pode a governadora aliada de Macri ter 127 votos e Macri nenhum?

Nesta outra, o número de votos da coligação de Fernández e Kirchner foi riscado e outro foi anotado em seu lugar. É possível perceber um número 7 na coluna de votos para deputados nacionais da coligação, o que dá a entender que os votos na coligação beiravam 70. Na última coluna, também há números riscados na linha da coligação ‘Consenso Federal’. O que parece é que já havia um número de votos totais estabelecido anteriormente à contagem dos votos na legenda, e que o número de votos nas coligações foi fraudado para bater com o número de votos totais.

E em outros boletins de seções eleitorais o número de votos em agrupações partidárias não bate com a somatória dos votos nas agrupações partidárias, ‘sobrando’ alguns votos que não sabemos para onde vão.

Na cidade e no distrito de Buenos Aires e em Córdoba, Macri tem bons resultados eleitorais. Fernández conseguiu uma liminar que impedia a divulgação dos resultados das primárias antes da apuração de 10% dos votos nesses três lugares. E a maioria dos informes adulterados são desses três lugares, e sobretudo do distrito de Buenos Aires, como os três informes (Dois da zona de Quilmes e um da zona de Junín).

O governo Macri, da forma frouxa que lhe é peculiar, através do ministro do interior Adrián Pérez, preferiu dizer que tudo ocorreu naturalmente e que se houve alguma falha, o resultado definitivo deverá corrigir o divulgado pelo provisório, embora tudo diga que isso não vai acontecer.

Foi essa postura, de não enfrentar os problemas e agir covardemente para não desagradar que impediu o êxito do governo Macri, e que está impedindo sua reeleição. Os fatos estão aí. E se o governo recusa a enxergá-los, espero que o povo argentino não se recuse também. E não está se recusando.