¿Viajas solo?

Foi a frase mais escutada na viagem. Entre outras, era o que mais causava espanto nas pessoas. Uma mulher viajando sozinha, pensava eu.
E eu só conseguia estar feliz com tudo que eu estava vivendo, aprendendo, absorvendo, experimentando.
Eu desejei com cada célula minha, que tantas outras mulheres tivessem a mesma coragem. A coragem de ser só. A coragem de se bastar como ser e não precisar de homem para sua validação. A coragem de só ser, de pela primeira vez na vida não esperar nada, não fazer nada por ninguém, não agradar ninguém a não ser sua própria vontade, seus próprios desejos, sua própria companhia. Porque desde cedo aprendemos a ser castradas, que não devíamos andar só tarde da noite pelas ruas, que temos de nos sacrificar e matar nossos desejos para agradar os outros, o homem especialmente, que é perigoso estar só. E então realmente é espantoso quando você esbarra numa mulher desbravando o mundo sozinha por ai. Mas será que devia ser?

A liberdade feminina incomoda, estranha, impacta. E é essa liberdade que eu desejo a todas nós. É nos reconhecer enquanto seres desejantes, independentes e livres. É traçarmos nossos destinos com o rumo que quisermos e não por quem queremos agradar. É lembrarmos que nossa existência vale por si mesma e não porque alguém nos valida. Valida nossa voz, nossos desejos, os caminhos que deveríamos seguir. Tem lugares do mundo que muitas mulheres não podem sequer mostrar seus rostos, esse é só um pequeno exemplo do quanto ainda somos castradas por ai! E se tem um desejo que eu carrego no meu coração, é o anseio de que todas possamos ser livres e felizes. Assim, seja apreciando vinho, jantando, indo a um show, indo à balada, viajando, andando tarde nas ruas. Solas ou não, que possamos andar por ai sem espantar ninguém. Sem despertar curiosidade ou pena. Simplesmente porque também queremos nos mover livremente. Porque desejamos fazer isso ou aquilo e fazemos. Simplesmente e não mais tão simplesmente porque Somos Mulheres.

Um brinde a todas que lutam por essa liberdade, porque ela ainda precisa ser conquistada.

Bárbara Alcântara