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Procura por dupla cidadania explode em 2022, impulsionada pela pandemia e eleições

Brasileiros estão cada vez mais atrás de um plano B. Além da pandemia, que influenciou a escolha de muitos, as eleições também impactam na decisão. Processo pode ser feito direto com consulado ou com empresas que prestam consultoria. Em uma delas, procura quase dobrou em relação a 2021.

POR GABRIELA ECHENIQUE

“Gosto muito de viajar né? Sempre ajuda, né, um passaporte europeu. Por exemplo, para os Estados Unidos não precisa fazer o visto. Lá para a Europa o processo de viagem é bem mais simplificado. Eu pessoalmente, em curto prazo pelo menos, não tenho a intenção de residir lá, mas é sempre uma possibilidade né? Não sabe o dia de amanhã”.

Plano B. É o que a maioria das pessoas que buscam dupla cidadania hoje quer. A pandemia ligou o sinal de alerta em quem já pensava em ter uma segunda opção. E, mesmo no período mais crítico do avanço do coronavírus, a procura por cidadania europeia explodiu nos últimos dois anos. E, em ano de eleição, o número de brasileiros que estão atrás de cidadania europeia é ainda maior.

Os motivos são vários: além do tal Plano B, quem busca dupla cidadania também pensa nos benefícios concedidos aos cidadãos europeus, como a não exigência de visto para entrar nos Estados Unidos, a facilidade para circular na Europa, para investir e a possibilidade de estudar ou trabalhar no continente. Se antes, os brasileiros buscavam se conectar com suas raízes, hoje, eles já pensam numa possibilidade para o futuro.

Pensando em dar um futuro melhor para os filhos, o professor Ricardo Puttini, ainda na pandemia, decidiu dar entrada no processo. Conversou com alguns irmãos, que toparam. No final das contas, 150 familiares aderiram. Eles decidiram contratar uma empresa que presta assessoria e consultoria em todo o processo de dupla cidadania italiana. Quanto mais gente, mais barato fica.

“A gente pagou coisa de 400 euros por adulto. Então, assim, o preço foi o fator decisivo, mas a gente fez uma avaliação de segurança também né? A gente conversou com alguns clientes que já tinham feito processo com eles. A gente fez uma série de reuniões com eles, para entender o processo né?”

A procura por cidadania europeia está cada vez mais comum e já é, inclusive, maior do que o período pré-pandemia. Uma das empresas que presta o serviço aqui no Brasil é a Cidadania4u – a maior do país hoje. Só nos primeiros meses deste ano, 31 mil e 400 pessoas procuraram a empresa para conseguir cidadania europeia – um aumento de 92% na comparação com o mesmo período do ano passado. A empresa oferece assessoria para cidadania italiana desde 2019 e para cidadania portuguesa há pouco mais de um ano.

A procura ainda é maior pela italiana – cresceu 93%. Por conta do aumento, a empresa que antes tinha apenas três funcionários, hoje tem 140 e o faturamento é sempre três vezes maior a cada ano. O CEO da Cidadania4u, Rafael Gianesini, fala da importância de oferecer um serviço de qualidade porque é um mercado de sonhos.

“A história já não é mais tão importante, agora é realmente mais uma necessidade. Inclusive assim, um plano B caso veja necessidade de sair do Brasil. Então as pessoas gostam de ter a possibilidade. Muitas vezes, nunca vão sair. É um mercado do sonho. Nosso mercado, de jogador de futebol, de casamento, é muito próximo. Porque é o sonho, é caro, a expectativa de um futuro melhor.”

Pagar pelo serviço não é barato. Como a família de Ricardo Puttini fez, cada um desembolsou cerca de R$ 3 mil. Mas se o processo for feito sozinho, o custo pode chegar a R$ 20 mil. A escolha por uma empresa é por causa do longo período de espera de quem tenta via consulados, que costuma demorar cerca de 8 anos. Mas a consultora jurídica, Camila Siqueira, tentou por conta própria, via consulado em Brasília e é exceção à regra. Em menos de 1 ano, conseguiu cidadania portuguesa. Primeiro, para a mãe. Depois, ela e as irmãs. Agora, está no processo para garantir a dupla cidadania para os filhos. Tudo isso porque a sobrinha quer estudar medicina na Europa. Mas não faltam outros motivos.

“Meu filho mais velho é autista, é uma possibilidade também (né?) de caso a gente precise de algum tratamento que não tenha aqui, é uma segunda opção né? A gente tem plano de saúde, mas né? não sabemos o dia de amanhã. Mas o meu marido trabalha na área de telecomunicações. Se ele tivesse uma oportunidade acho que a gente poderia ir sim”.

Para quem procura uma empresa, o prazo, em média, para conseguir a dupla cidadania é de um ano. Mas a expectativa é que esse prazo caia ainda mais. Isso porque, para atender o aumento da demanda e desafogar o judiciário, a Itália mudou o Código de Processo Civil no final de junho. O processo que era analisado pelo tribunal de Roma, agora é julgado pelos tribunais das províncias. A Nostrali é outra empresa que oferece esse serviço – já conseguiu a cidadania italiana para mais de 1,6 mil pessoas. O CEO da empresa, David Manzini, está no ramo desde 2015. A empresa atua desde 2019. E diz que, em ano de eleição, sempre há aumento considerável na procura.

“E o que a gente sente agora, independentemente daquilo que for a escolha do povo brasileiro, tá sentindo muitas pessoas falando assim para nossos assessores, vendedores: já tavam com essa ideia, mas hoje em dia, com insegurança política e eleições próximas, dependendo daquilo que for acontecer eles querem ter uma porta aberta para o mundo para que possam, de repente, ir embora. Estão com passaporte no bolso né?”

Quem quiser tentar a dupla cidadania também poder fazer viajando ao país. Nesse caso, é preciso morar lá por um tempo, mas o processo é rápido, dura cerca de quatro meses.

Fonte: CBN

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