Reflexão

Cotas Raciais

Se somos todos iguais, cotas raciais para quê? Para compensar séculos de desigualdade. Os negros foram, de um dia pro outro, alforriados e jogados na rua sem trabalho. Já que teriam que pagar pela mão de obra, que ela fosse branca e imigrantes vieram ocupar vagas de trabalho remunerado, ao invés assalariar os negros.

E eles também não poderiam ser “devolvidos” às suas famílias e comunidades de origem. O passado destruído, o presente um caos, como construir um futuro? Esmolaram, se prostituíram e aos poucos foram recuperando alguma dignidade, mesmo ocupando as favelas. Mesmo depois da abolição, enfrentaram décadas de preconceito. É uma dívida social.

A Constituição garante a igualdade e para isso é preciso tratar públicos diferentes de forma diferente, justamente para garantir a igualdade de oportunidade. Pode não parecer justo para com jovens brancos pobres de hoje, uma vez que a falta de acesso à educação parece ter a falta de dinheiro como causa. Mas a história das cotas não é apenas uma questão financeira. É mais complexa, é socia.

Crianças negras precisam ver profissionais negros de sucesso, para desconstruir as limitações criadas e alimentadas ao longo de todo esse tempo de preconceitos. Isso tinha que ser feito de alguma forma em algum momento para trazer os negros para uma posição de igualdade real. Se no Brasil a população negra é maioria, deveríamos encontrar negros em todas as profissões na mesma proporção. E isso não acontece.

Agora, eu concordo que isso não pode ser uma solução em longo prazo. Penso que a mesma lei que garante as cotas falha em não criar um plano para garantir que isso seja temporário e que aos poucos os critérios migrem do da afro descendência para garantir vagas a quem não pode pagar. Isso tem que ser uma meta para o futuro.

Mas, em minha opinião, o caminho neste momento passa pelas cotas raciais. Torço para que todos aproveitem a grande oportunidade de crescimento e de reflexão. Sei que a lei é genérica e que existem pessoas beneficiadas que não merecem e outras merecedoras que não se enquadram. Mas esse é o preço de viver num país do tamanho do nosso? Talvez também, seja este o preço à pagar, diante da falácia de que o Brasil não é um país preconceituoso em diversos aspectos, movido pelas desigualdades.

Por Angel Ferreira Ramos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

×