Veja a cronologia da disputa entre Bolsonaro e Doria em torno da vacina contra a Covid-19
O anúncio de que o governo de São Paulo pretende iniciar a vacinação contra a Covid-19 já em janeiro com a vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, provocou reações no Planalto. Governo federal tentou antecipar para dezembro vacinação com imunizante da Pfizer.
O anúncio nesta semana de que o governo de São Paulo pretende iniciar a vacinação contra a Covid-19 já em janeiro com a vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, provocou reações no Planalto.
Após o anúncio do plano, o governo do presidente Jair Bolsonaro se movimentou para comprar as vacinas produzidas pela Pfizer/BioNTech e chegou a prever um início da imunização já em dezembro — o que, no entanto, será muito improvável de ocorrer por causa do pedido tardio ao laboratório. A Pfizer disse que teria condições de fazer entregas em janeiro.
Além disso, governadores se dividiram entre os que apoiaram a ideia do governador João Doria (PSDB) e fecharam acordos com o governo paulista e aqueles que pressionam o Planalto e o Ministério da Saúde para não permitir que um estado saia na frente na vacinação.
Entre os descontentes com Doria, está o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que afirmou nesta sexta que o Governo Federal vai requisitar todas as vacinas contra a Covid — que incluiria a CoronaVac. O paulista respondeu dizendo que a possível proposta do Planalto seria “um confisco de vacinas”.
O Ministério da Saúde disse em nota que “em nenhum momento (…) se manifestou sobre confisco ou requerimento de vacinas adquiridas pelos estados”. A pasta reafirmou a importância das secretarias estaduais e municipais nas campanhas de vacinação.
Vale lembrar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não aprovou a CoronaVac nem outra vacina. Além disso, a expectativa é que os dados de eficácia do imunizante produzido pelo Butantan e pelo laboratório chinês só saiam nos próximos dias.
As desavenças desta semana são apenas os capítulos mais recentes da disputa entre Doria e o governo Bolsonaro sobre vacinas, principalmente se tratando da CoronaVac. Veja abaixo a cronologia dessas discussões.
11/6 – Doria anuncia parceria com Sinovac
Com os testes ainda em andamento, Doria anunciou que o Instituto Butantan seria parceiro do laboratório chinês Sinovac para a produção de uma vacina contra o coronavírus. “Os estudos indicam que ela estará disponível no primeiro semestre de 2021, ou seja, até junho do próximo ano. E com essa vacina nós poderemos imunizar milhões de brasileiros”, disse, na ocasião.
27/7 – Vacina para ‘milhões de brasileiros’
Em entrevista à Rádio Itatiaia, o governador paulista disse que a aplicação da vacina CoronaVac poderia ser ofertada já em janeiro de 2021 no Sistema Único de Saúde (SUS) em diversos estados.
“Nós já poderemos iniciar a produção da vacina em dezembro e imediatamente na sequência iniciar a vacinação, com o SUS, de milhões de brasileiros, não apenas em São Paulo como também em outros estados”, afirmou Doria.
30/9 – Contrato assinado com SP
Doria assinou, mais de três meses depois do anúncio da parceria, um contrato para o recebimento de 46 milhões de doses da CoronaVac. O acordo foi assinado por Doria e Weining Meng, diretor do laboratório Sinovac, durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes. No mesmo evento, o governador anunciou que a vacinação de profissionais de saúde deve ter início em 15 de dezembro — data que não poderá ser cumprida.
20/10 – Pazuello anuncia compra de doses da CoronaVac
O Ministério da Saúde anunciou, em reunião com governadores, que a União compraria 46 milhões de doses da CoronaVac. Com isso, a expectativa era que o governo editasse uma nova Medida Provisória para disponibilizar R$ 2,6 bilhões até janeiro.
Na ocasião, Pazuello afirmou que, quando a vacina for aprovada, as doses serão distribuídas a todo o Brasil por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que há décadas é responsável por campanhas nacionais de vacinação.
21/10 – ‘Não compraremos a vacina da China’, diz Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro afirmou, em sua página no Facebook, que o Brasil não compraria “a vacina da China”.
A afirmação foi feita em resposta a uma seguidora na rede social que pediu a exoneração do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. “Bom dia presidente. Exonera Pazuelo urgente, ele está sendo cabo eleitoral do Doria. Ministro traíra”, escreveu a seguidora, referindo-se a João Doria (PSDB), governador do estado de São Paulo.
“Tudo será esclarecido ainda hoje. Não compraremos a vacina da China”, respondeu o presidente.
21/10 – Doria pede ‘grandeza’ a Bolsonaro
Em resposta, Doria pediu ao presidente Bolsonaro que “tenha grandeza” em relação à CoronaVac e disse que “não é ideologia, não é política, não é processo eleitoral que salva, é a vacina.”
“Falo aqui na condição de governador do estado de São Paulo, mas falo principalmente como brasileiro, como pai. E como pai eu desejo que meus filhos tomem a vacina, desejo que minha família tome a vacina, desejo que meus vizinhos tomem a vacina, desejo que os brasileiros tomem a vacina. A vacina é que vai nos salvar a todos. Não é ideologia, não é política, não é processo eleitoral que salva, é a vacina”, afirmou.
10/11 – ‘Mais uma que Bolsonaro ganha’, diz presidente sobre suspensão de testes
Ao comentar a suspensão dos testes da vacina CoronaVac após a morte de um voluntário — morte que não teve relação com o imunizante —, o presidente afirmou que o episódio é mais um em que “Jair Bolsonaro ganha”.
“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu Bolsonaro.
3/12 – Lote com matéria-prima chega a SP
Um lote com 600 litros de matéria-prima da vacina CoronaVac chegou em 3 de dezembro, em evento que contou com a presença do governador João Doria.
“Viemos receber aqui mais um lote da vacina CoronaVac, da vacina do Butantan, a vacina que vai salvar a vida de milhões brasileiros. Hoje recebemos insumos para 1 milhão de doses da vacina. Somados aos 20 mil que já recebemos, agora temos 1 milhão e 120 mil doses da vacina”, afirmou Doria.
7/12 – Doria anuncia plano de vacinação para janeiro
O governo de São Paulo disse que o plano de vacinação com a CoronaVac começa no dia 25 de janeiro de 2021. O primeiro grupo a receber a vacina contra o coronavírus engloba profissionais de saúde, indígenas e quilombolas de todo o estado. A previsão do governo de São Paulo é a de que os documentos sobre a CoronaVac sejam entregues à Anvisa em 15 de dezembro.
8/12 – Pazuello diz que governo comprará CoronaVac ‘se houver demanda’
Em reunião com governadores, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que, se houver demanda e preço, o governo federal vai comprar a “vacina do Butantan”.
A declaração foi dada após Doria questionar se o Ministério da Saúde pretendia adquirir a CoronaVac. Na pergunta, o governador paulista lembrou que o governo federal fechou acordo para comprar outros dois imunizantes.
“Já respondi isso a todos os governadores. Quando a vacina do Butantan – que não é do estado de São Paulo, tá, governador? Não sei como o senhor fala tanto como se fosse do estado. Ela é do Butantan. O Butantan é o maior fabricante de vacina do nosso país e é respeitado por isso”, afirmou Pazuello.
“O Butantan, quando concluir o seu trabalho e tiver sua vacina registrada, nós avaliaremos a demanda e, se houver demanda e houver preço, nós vamos comprar. […] Volto a colocar para o senhor [Doria] que o registro é obrigatório e, havendo demanda, havendo preço, todas as vacinas, todas as produções serão alvo de nossa compra.”
9/12 – Doria pede liberação da CoronaVac
Em entrevista, o governador paulista disse que a Anvisa “não é uma agência de regulação do interesse do Governo Federal” e que espera que ela “cumpra seu papel” e aprove a CoronaVac.
“Nossa expectativa e o nosso desejo é que a Anvisa o cumpra seu papel. Uma agência reguladora autônoma, independente e científica. Não é uma agência de regulação do interesse do Governo Federal, do Palácio do Planalto ou de defesa ideológica. É o último estágio que nós imaginaríamos que uma agência reguladora independente faria. Então nós, os governadores e eu, em São Paulo, temos expectativa que a Anvisa cumpra seu papel, aprove a CoronaVac, a vacina do Butantan”.
11/12 – Planalto quer centralizar distribuição, diz Caiado
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), publicou em suas redes sociais que o Ministério da Saúde deve editar uma Medida Provisória para “tratar da centralização e distribuição igualitária das vacinas”, além de requisitar todas as vacinas contra o coronavírus. O anúncio foi feito após um encontro do goiano com o ministro Eduardo Pazuello, durante a inauguração de uma maternidade em Goiânia.
O G1 apurou que o governo federal já trabalha em uma Medida Provisória relacionada a vacinas, com liberação de recursos para compra de imunizantes. Há expectativa de o texto ser publicado em breve.
O Ministério da Saúde disse que em nenhum momento se manifestou sobre confisco ou requerimento de vacinas adquiridas pelos estados.
Fonte: G1