Reflexão

Adeus vovó, pensava que nunca seria o último.

-Vó, tá me ouvindo? Eu sei que não vai me responder, mas eu acho que sim. A senhora sempre parou tudo que tava fazendo para me escutar.
Vim aqui dizer que você tá fazendo falta e tô com saudade! Por aqui eu até tenho outras pessoas que me amam muito, mas seu carinho era diferente. Era carinho de vó.
Queria te perguntar como estão as coisas aí em cima. Usando a mesma voz preocupada que a senhora falava quando me flagrava tristonho ou feliz demais.
Queria ter tido mais tempo para poder retribuir tudo que fez por mim. Aceitaria começar te cobrindo quando te flagrasse cochilando no sofá frio; ou quem sabe, no seu aniversário, te comprando um presente daqueles caros, que minha mãe jamais compraria para me forçar a dar valor ao dinheiro, também poderia ser assistindo seu desenho favorito concordando que era o melhor, mesmo sendo muito chato; poderia te abençoar de volta em todas às vezes que chegava ou saía ou ter apertado mais aqueles abraços.
Desculpa. É que pensava que nunca seria o último.
Queria tanta coisa… a começar pela senhora de volta. Nem que fosse emprestada só no dia da minha formatura para eu te mostrar o canudo e dizer que consegui! Que conseguimos! Ou no batizado do meu primeiro filho. Queria ver seu olhinho fechado, rindo à toa, olhando e falando para os outros que aquele era seu bisneto. Queria dar mais um beijo – daqueles que estralam – na sua bochecha linda, fininha e enrugada.
Queria. Queria tanto…
Mas, não posso. E, confesso que isso dói. Mas, logo lembro de tudo. Fecho os olhos – como estou fazendo agora – sorrio baixinho e volto a te perguntar:

  • “Vó, tá me ouvindo? Te amo, viu?” Aí tudo passa.

Texto: @lpontorosendo

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