As meninas
As meninas queriam-se assim, prendadas. Sem grandes rasgos, nem desejos soltos. As meninas queriam-se sossegadas. Calmas, generosas e caladas.
Bálsamo e água pura. Tecto e sacrifício.
As meninas queriam-se castas. Ignorantes quanto às artes do amor. Com sorte os homens ensiná-las-iam e com eles desbravariam sendas e entrariam em bosques frondosos e baías quentes. A maior parte das vezes não tinham essa sorte. Mordiam a vontade em silêncio. Cumpriam a obrigação de esposas. Silenciosas e hirtas. Virgens de prazer.
As meninas não davam gargalhadas, as meninas não entendiam as anedotas “sujas”, as meninas sentavam-se com os joelhos juntos, as meninas não assobiavam, as meninas não subiam às árvores.
Felizmente as meninas tinham livros. Felizmente as meninas tinham sonhos. Felizmente as meninas tinham asas. E voaram.
©️ Maria Jorgete Teixeira