O Mendigo e o Cão
Tudo que tenho é o ar para respirar
E um cachorro para dar de comer
Pouco me importo se não tenho um lar
Apenas um livro que gosto de ler;
Pois é assim que vou vivendo
Eu e meu cão vagabundo
Pensamentos perdidos ao vento
Adormecidos nas ruas deste mundo;
Um papelão companheiro que se faz de cama
A solidão que substitui a coberta
O sereno que a ferida inflama
Não satisfaz a tristeza que é certa
Mas o coração que é tão tosco e engana…
O pouco que tenho é uma história para contar
De um cãozinho que alegra meu viver
Colher carinho sem amor pra plantar
Quem sabe o direito de em paz morrer;
No cartório emprestou-me um nome
Pobre e miserável cachorro que nem nome tem
E nem por isso reclamas
Quando lhe chamo tu vens;
Cachorro vagabundo de teimosia invejável
Quase nada posso te oferecer
Até meu cheiro se torna indesejável
Parece contente em meu lado perecer;
Velho amigo espero que possa compreender
É tão sofrível a solidão me causar
Se um dia destes vier a falecer
Espero pelo teu perdão.
Autor: Gilmar Matias