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Você não perde alguém apenas uma vez

Você não perde alguém apenas uma vez. A perda não é um único instante, mas uma série de momentos, pequenos e imensuráveis, que se repetem ao longo do tempo.

Você perde alguém quando fecha os olhos à noite, e a cama ao lado permanece vazia. Perde-os toda manhã, quando os primeiros raios de sol iluminam o espaço que eles ocuparam. Perde-os em cada gesto simples: uma chávena de café não compartilhada, uma cadeira vazia que ainda parece esperar, um par de botas que não será usado novamente.

Perde-os quando o dia se despede, e o silêncio da noite traz à tona a saudade. Perde-os no vazio das perguntas sem respostas, enquanto olha para o céu pontilhado de estrelas, tentando entender o porquê.

Você perde alguém nos grandes momentos da vida: aniversários, formaturas, casamentos, mas também nos dias comuns, nos que parecem simples, mas são marcados pela ausência. Perde-os na melodia de uma música que costumavam cantar juntos, no aroma do perfume que deixavam no ar, na fatia de torta que agora não tem mais sabor. Perde-os em conversas que nunca acontecerão, nas palavras não ditas que ecoam no silêncio.

Perde-os em cada canto onde estiveram, nos lugares que sonhavam explorar, nos momentos que poderiam ter sido, nos sonhos compartilhados. Perde-os à medida que as estações se sucedem: a neve cai, as flores desabrocham, a relva cresce e as folhas caem.

José Amaro “Baú”, Cristiane e Dona Zefinha. três gerações da família Marques que já estão com Deus, mãe, filho e neta.

Perde-os repetidamente, dia após dia, mês após mês, ano após ano. Perde-os na tentativa de reunir os pedaços quebrados e reconstruir uma vida, enquanto uma nova realidade se impõe, sem retorno.

Eles se foram, e você deve continuar. Só. O tempo passa, e a distância entre vocês se amplia, até que o que restou é apenas uma sombra de quem eram. O rosto deles se desvanece, preso a uma fotografia que parece cada vez mais distante, de alguém que um dia foi real.

A perda não acontece uma única vez. Ela acontece todos os dias, vezes sem conta. Até o fim da sua vida, você os perderá repetidamente. Em cada memória que desvanecerá, em cada detalhe que escapa. E a saudade, essa, nunca desaparecerá.

Fonte: @sobreliterarura

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