Alesp promove debate sobre racismo religioso e cultura da paz
Primeiro encontro do evento reuniu líderes de diferentes crenças e destacou a importância de combater a discriminação em prol da igualdade entre os povos; segunda reunião ocorre quinta (21)
A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo sediou, nesta terça-feira (19), o primeiro encontro do seminário “Racismo religioso e cultura da paz”. O evento reuniu líderes de diferentes crenças que destacaram a importância de combater a discriminação e a violência em prol da paz e igualdade entre os povos. Também foi debatida a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas em defesa dos imigrantes refugiados que moram no território paulista.
A atividade parlamentar foi solicitada pelo deputado Eduardo Suplicy (PT) e a segunda reunião do seminário ocorre nesta próxima quinta-feira (21).
Cultura de paz
Cultura de paz é um modo de viver pautado pelo diálogo, tolerância, solidariedade e igualdade de direitos. Apesar do tema ser debatido há décadas, existe uma dificuldade de concretizar princípios simples de uma boa convivência social.
“A consolidação de uma cultura de paz está condicionada a uma sociedade com os mesmos direitos e oportunidades para todos, com o reconhecimento à pluralidade de crenças e culturas e uma política de Estado que estimule o bem-estar social”, destacou o presidente da Comissão de Relações Internacionais da Casa, deputado Maurici (PT), que apoiou o evento.
Um dos desafios a serem enfrentados na busca por uma cultura de paz é o racismo. Um estudo realizado em 2023 pelo instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), revela que 60% dos brasileiros consideram nosso país racista, enquanto 51% declaram já terem presenciado um ato de preconceito.
O desequilíbrio econômico é outro obstáculo para que seja alcançada uma cultura de paz no Brasil. De acordo com uma pesquisa de 2023 do Observatório Brasileiro das Desigualdades, cerca de 7,5 milhões de cidadãos vivem com uma renda per capita inferior a R$150 por mês, o que equivale a cinco reais por dia em média. O mesmo estudo alerta que o rendimento médio dos 10% mais ricos do país é 14 vezes maior do que a renda dos 40% mais pobres.
Religião
A cultura de um país ou de um povo também está baseada na sua espiritualidade e na religião. No caso do Brasil, por ser um Estado laico, todos têm o direito garantido constitucionalmente de expressar ou não sua fé.
No entanto, a crença do outro nem sempre é respeitada. “Vejo que o Brasil faz vários julgamentos à crença alheia”, disse a organizadora do evento, a advogada congolesa e ex-presidente do Conselho Municipal de Imigrantes, Hortense Mbuyi.
Para combater episódios como esse, o crime de intolerância religiosa é punido com cinco anos de reclusão e pagamento de multa. Segundo o deputado Maurici, os principais alvos de perseguição são as religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, que estão entre as religiões com maior número de adeptos no país.
“Precisamos nos mobilizar e erguer nossa voz contra atos de injustiça, violência ou desigualdade. É preciso estar vigilante e exercer a empatia, adotando o diálogo como uma via prioritária para solucionar nossos problemas, além de respeitar o direito de as pessoas pensarem diferente de nós”, disse o deputado Maurici.
Um canal que recebe demandas relativas a violações de direitos humanos, o Disque 100, registrou um aumento de 140% de denúncias sobre intolerância religiosa entre 2022 e 2023.
Imigração
A imigração é um direito que ocorre pelo desejo de construir uma vida mais digna e alcançar perspectivas de um futuro melhor, com mais segurança, oportunidades e saúde. Grande parte das pessoas saem de seus países de origem contra a própria vontade.
“Esse deslocamento, na maioria das vezes, ao invés de fortalecer o ser humano, traz vários desafios. O imigrante negro, por exemplo, enfrenta racismo, dificuldade de integração social e vários outros tipos de preconceitos”, destacou a organizadora do evento, Hortense Mbuyi.
Convidados
O seminário ainda contou com a presença do primeiro-conselheiro da embaixada do Congo no Brasil, Joachim Doste; o sheik sírio e líder da Mesquita Brasil, Mohamed Al Bukai; e o pastor presidente da igreja AD Porta do Céu, Sergio Mayobo Makiese.
Fonte:O Tabloide Vgp