Mesbla: o que aconteceu com uma das maiores lojas do Brasil dos anos 1980
Durante boa parte do século passado, entrar em uma loja da Mesbla era como estar em um verdadeiro universo do consumo.
Fundada em 1912, a rede de lojas de departamento se consolidou como uma das maiores do país ao oferecer praticamente tudo o que um consumidor poderia imaginar. Das megalojas com decoração caprichada e vitrine sempre renovada, às campanhas estreladas por artistas, a Mesbla era ponto de referência em várias cidades e o destino favorito de consumidores em busca de variedade e qualidade.
No entanto, a marca que chegou a dominar o mercado, com 180 lojas e mais de 28.000 funcionários, viveu uma reviravolta dramática nos anos 1990. Com a popularização dos shopping centers e das lojas especializadas, e diante das dificuldades impostas pela hiperinflação e pela entrada de novos concorrentes, a Mesbla enfrentou uma série de crises financeiras que culminaram em sua falência em 1999.
Em 2022, tentou voltar ao mercado, agora como um e-commerce. Ainda que distante de seu brilho de antigamente, a marca continua sendo um símbolo da história do varejo brasileiro.
Qual é a história da Mesbla
A história da Mesbla começou em 1912, quando a francesa Mestre & Blatgé abriu uma filial no centro do Rio de Janeiro. Originalmente focada no comércio de máquinas e equipamentos importados, a loja era apenas uma pequena parte de uma rede global. Tudo mudou em 1924, quando o francês Louis La Saigne, então gerente da unidade carioca, decidiu transformar a loja em uma empresa independente, criando a Sociedade Anônima Brasileira Estabelecimentos Mestre et Blatgé.
Em 1939, a empresa mudou de nome para Mesbla, uma combinação das sílabas das palavras “Mestre” e “Blatgé”. A ideia foi de uma secretária de La Saigne e veio em meio à Segunda Guerra Mundial, num período de tensões entre países.
O novo nome simplificado marcava o início de uma identidade brasileira, e a Mesbla logo se expandiu pelo país.
Qual foi o auge da Mesbla
O auge da Mesbla veio nas décadas de 1970 e 1980. Nesse período, a rede já tinha 180 lojas, empregava 28.000 pessoas e operava megalojas que ocupavam áreas de até 3.000 metros quadrados.
Nas vitrines, expunham-se de roupas a utensílios domésticos, eletrônicos, eletrodomésticos e até automóveis, além de acessórios para o lar.
Os funcionários costumavam dizer que na Mesbla só não se vendiam caixões: de barcos e aviões a artigos de moda e cama, mesa e banho, a rede oferecia produtos para todas as necessidades.
As campanhas publicitárias foram uma marca do sucesso da rede. A Mesbla foi uma das primeiras varejistas a investir pesado em catálogos coloridos e anúncios em televisão. Os comerciais, que contavam com celebridades da época, como Regina Casé, Andréa Beltrão e Diogo Vilela, eram exibidos em horário nobre e ajudavam a manter a marca no topo das mais lembradas pelos consumidores.
Em 1986, o auge da rede foi reconhecido com o título de “Melhor Empresa do Brasil” pela EXAME, graças a sua inovação e liderança no setor. O presidente da empresa, André De Botton, ganhou destaque entre a elite empresarial e foi eleito, duas vezes, o Varejista Estrangeiro do Ano pela National Retail Federation, uma das maiores associações de varejo do mundo.
Por que a Mesbla fechou
Apesar do sucesso, a Mesbla começou a enfrentar dificuldades nos anos 1990, em um período de mudanças significativas no mercado de consumo.
A entrada de novas redes especializadas, que focavam em produtos específicos com organização mais eficiente, tornava as megalojas da Mesbla cada vez menos atrativas. Ao mesmo tempo, o avanço dos shopping centers no Brasil oferecia mais praticidade ao consumidor, com lojas menores e de marcas variadas em um só lugar.
Em 1989, os gestores da Mesbla, temendo uma escalada da inflação, adotaram uma estratégia arriscada e começaram a estocar mercadorias em grandes quantidades. Com a chegada do Plano Real, em 1994, a estabilização da economia colocou em xeque a estratégia de estocagem, que agora pesava no caixa da empresa.
Além disso, a Mesbla enfrentava problemas internos que dificultavam a adaptação às novas exigências do mercado. Com uma diretoria inchada – eram cerca de 40 executivos tomando decisões –, a companhia viu suas ações se tornarem lentas. Para tentar competir com as novas redes, a Mesbla lançou marcas próprias e até criou um cartão de crédito exclusivo, mas a resposta veio tarde demais.
A falência e o retorno como e-commerce
Em 1997, a Mesbla, já com dívidas de mais de R$ 1 bilhão, entrou em processo de concordata. No mesmo ano, a empresa foi adquirida pelo empresário Ricardo Mansur, que também controlava o Mappin. Mansur planejava unir as operações das duas redes e relançar a Mesbla com foco em consumidores de renda mais baixa, mas os problemas financeiros só se agravaram, e a falência foi decretada em 1999. O que restou foi vendido em liquidações, para cobrir parte dos salários atrasados de seus 750 funcionários.
Em 2009, a marca ensaiou um retorno como loja online, mas o projeto não se concretizou. Finalmente, em 2022, a Mesbla voltou oficialmente ao mercado, agora como um marketplace no formato de e-commerce. Embora o novo modelo seja bastante diferente das grandes lojas de departamento de antigamente, a marca tenta resgatar o prestígio de outrora, mantendo o nome vivo no imaginário de quem testemunhou a era de ouro do varejo brasileiro.
Fonte:https://exame.com/negocios/mesbla-o-que-aconteceu-com-uma-das-maiores-lojas-do-brasil-dos-anos-1980/