Brasil perde oportunidades de se projetar para o mundo, mesmo com potencial enorme, avalia Roberto Teixeira da Costa
Autor do livro ‘O Brasil tem medo do mundo? Ou o mundo tem medo do Brasil?’ critica tendência de executivos brasileiros em se afastar de outros países, mas vê criatividade e planejamento em longo prazo como possíveis soluções.
Empresas privadas e instituições públicas brasileiras não se dão conta da importância do Brasil e consequentemente perdem oportunidades de melhor projetar o país para o exterior.
É essa a avaliação do economista Roberto Teixeira da Costa, conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e autor do livro “O Brasil tem medo do mundo? Ou o mundo tem medo do Brasil?”.
“O Brasil tem medo do mundo, sim”, responde Teixeira à pergunta que ele mesmo se propõe a responder no livro. “O Brasil tem uma postura de se acomodar em sua posição internacional, olhar demais para o mercado interno e com uma visão imediatista”, complementa o autor.
“Não nos damos conta da nossa relevância para o mundo, nem para o enorme potencial que o Brasil tem em recursos. Esse distanciamento não é compatível com o tamanho do Brasil” — Roberto Teixeira da Costa.
Em entrevista ao G1, o economista conta que o livro foi resultado de anos de experiência participando de reuniões no exterior — Teixeira integrou e presidiu a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ocupou outros cargos em instituições internacionais de economia e relações internacionais.
Ele relata que, durante as viagens, percebia um desinteresse dos próprios brasileiros em se internacionalizar. “Eu me sentia muito inferiorizado. Ia de cabeça baixa”, conta Teixeira. Em um trecho do livro, o economista menciona inclusive que os representantes de empresas e órgãos do país perdiam oportunidades nos eventos internacionais ao não aproveitar os tempos livres para fazer mais negociações e estabelecer pontes.
Para o economista, essa situação se agravou nos últimos anos, e o Brasil está perdendo espaço para outras lideranças latino-americanas. “O Brasil no passado seria convidado até como ouvinte na reunião do G7. Mas nossa importância na América Latina está diluída. Não se quer mais ouvir o Brasil”, comenta.
“E esse isolamento não foi construído em Nova York, em Washington. Foi aqui mesmo, dentro do próprio país”, acrescenta Teixeira.
Como superar esse afastamento?
Roberto Teixeira da Costa diz que o Brasil tem condições de se mostrar mais preparado para o mundo e que isso passa pelo reconhecimento de suas próprias características. O autor cita a recente declaração do papa Francisco, que disse, em tom de brincadeira, que o Brasil “não tem salvação“.
“O Brasil tem salvação, sim. Nós temos que perder o medo, deixar claro o que estamos fazendo e as dificuldades que estamos tendo”, diz Teixeira.
O autor aponta possíveis saídas para que o Brasil se projete no cenário global, que levarão investidores e governos estrangeiros a retomarem o interesse pelo país. Algumas delas são:
- reconhecimento da capacidade criativa do Brasil e dos brasileiros
- maior previsibilidade nas decisões, condição essencial para atrair investimentos
- planejamento em longo prazo, pensando 20 ou 30 anos à frente
- formação de políticas das próprias empresas para que elas busquem o exterior
“O mundo também tem medo do Brasil: são as queimadas, os problemas de segurança interna, a falta de previsibilidade do país. O estrangeiro quer previsibilidade”, comenta Teixeira.
Qual o cenário futuro?
Teixeira contou ao G1 que seu livro estava pronto em dezembro de 2019. Aí, no mês seguinte, o novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo até que, em março, virasse pandemia. No começo de 2021, Donald Trump deixou o cargo de presidente dos Estados Unidos e Joe Biden assumiu o posto. O cenário mudou rápido. “Foi a oportunidade para atualizar a pesquisa”, relata.
Em relação à pandemia, o economista diz no livro que o grande choque será a mudança na noção das cadeias de produção. Segundo ele, vários países perceberam como é danosa a dependência extrema de apenas um país que detém as etapas diversas da fabricação de insumos de combate à Covid-19 — exemplo da China, que fabrica de respiradores a material para as vacinas contra o coronavírus.
Além das críticas que opõem Washington e Pequim, a reunião do G7, que intensificou as pressões do Ocidente contra a Rússia, e o encontro entre Biden e Putin, mostram um pouco do tom das relações entre países nos próximos anos. Para Teixeira, não há saída: o Brasil deverá dialogar com todos, independentemente de quem está agora ou estiver no futuro no poder.
“Governos são transitórios, mas o Estado é permanente”, alerta.
Ficha técnica
O Brasil tem medo do mundo? Ou o mundo tem medo do Brasil? (Editora Noeses)
- Autor: Roberto Teixeira da Costa.
- Prefácio do diplomata Marcos Azambuja
- 294 páginas
- Preço de capa: R$ 128
Fonte: G1