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Cazuza completaria 65 anos no dia 14 de abril

Cazuza comemorando 65 anos não é só um exercício de saudade inútil, é a oportunidade de valorizar o seu talento e sua obra, e considerando só as canções que fez já doente, antes de morrer aos 32 anos, imaginar o que ele poderia estar fazendo hoje.

Com Cazuza tudo sempre foi diferente. Péssimo aluno, aprendeu em casa, convivendo com grandes nomes da música brasileira amigos de seus pais, e ouvindo bossa nova, samba-canção, boleros, e muito rock and roll, que o levou ao sucesso. Cazuza é caso raro de nepotismo que virou meritocracia. O pai de Cazuza, João Araujo, presidente da Som Livre, ouviu e adorou um demo de uma nova banda de rock apresentada pelo produtor Guto Graça Mello.

  • Adivinha quem é ? É a banda do teu filho! João reagiu – Ah então não posso contratar, seria nepotismo… mas logo foi convencido de que se deixasse de contratar o Barão Vermelho seria despedido da companhia… por incompetência.

O primeiro sucesso de Cazuza não foi com Frejat e o Barão Vermelho, mas com Ney Matogrosso, que tinha um romance com Cazuza na época, e sua gravação roqueira arrebatadora de “Pro dia nascer feliz”, que se tornou um grande sucesso nacional. E foi num crescendo de qualidade, incorporando um clima de samba canção e até de bossa nova ao rock and roll

Mas foi a partir de ser diagnosticado com AIDS, que na época era praticamente uma condenação à morte, que Cazuza produziu canções de grande maturidade, que se tornaram clássicos modernos, como “O Tempo não para”. Abordou a politica e as ideologias com uma visão critica e autodebochada que deu uma outra dimensão de sua potencia poética.

E criou um grande clássico moderno, sobre a eterna corrupção brasileira, com uma das músicas politicas mais contundentes da nossa história, cantada com raiva por Gal Costa, que, naturalmente, continua atualíssima, porque o Brasil está mostrando a sua cara.

Dois anos depois Cazuza morreu, deixando uma obra que revela um poeta que viveu e criou com um adolescente, um jovem rebelde, um homem maduro e um idoso terminal em intensidade máxima, como um dos nossos grandes letristas de todos os tempos.

Coluna do Nelson Motta no Jornal da Globo de 14/4.

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