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Médico é indiciado por morte de adolescente que teve o intestino perfurado durante cirurgia em hospital de Goiânia

Milleny Lopes Costa, de 17 anos, morreu após passar por três procedimentos cirúrgicos. Mãe pede por justiça: ‘Queremos honrar a memória dela’.

O médico Wilson Moisés Oliveira Martins foi indiciado pela morte da estudante Milleny Lopes Costa, de 17 anos, que teve o intestino perfurado durante uma cirurgia em um hospital de Goiânia. A Polícia Civil concluiu que houve negligência por parte do cirurgião após o procedimento e o indiciou por homicídio culposo.

G1 entrou em contato com a defesa do médico para que se posicionasse sobre o caso, por meio de mensagem enviada às 16h desta terça-feira (13), mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

A adolescente morreu no dia 6 de setembro de 2020, após sofrer uma infecção generalizada. Mãe da menina, Ruth Lopes Vieira, de 50 anos, espera que o médico seja responsabilizado pelo erro para que outras famílias não tenham de enfrentar a mesma dor.

“A gente quer que ele seja condenado por essa negligência. Isso não vai minimizar a dor da falta da minha filha. O que a gente também quer é honrar a memória dela, que tinha uma vida toda pela frente”, disse a mãe.

Milleny Lopes Costa, de 17 anos, que teve o intestino perfurado durante uma cirurgia no hospital Goiânia Leste.  — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Milleny Lopes Costa, de 17 anos, que teve o intestino perfurado durante uma cirurgia no hospital Goiânia Leste. — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

De acordo com laudo do Instituto Médico Legal (IML), a menina morreu após passar por um procedimento chamado de Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE), o que, segundo a perícia, ocasionou a perfuração no intestino da adolescente.

A perícia apontou que esse procedimento apresenta, de fato, risco de perfuração do órgão, mas que o diagnóstico precoce e tratamento poderiam diminuir os riscos. O laudo concluiu ainda que houve falta de assistência médica após o procedimento.

O inquérito foi finalizado pela delegada Marcela Orçai no dia 15 de junho deste ano e enviado à Justiça. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) informou, nesta terça-feira, que a 64ª Promotoria de Justiça de Goiânia está analisando o caso para definir quais medidas serão adotadas.

A reportagem entrou em contato com o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) pedindo um posicionamento e aguarda um retorno.

Internações e cirurgias

Ruth contou que a filha passou por uma cirurgia de vesícula no dia 20 de agosto de 2020, por um médico conhecido da família, no Hospital Goiânia Leste. Ela recebeu alta no dia seguinte.

No entanto, 13 dias depois, a menina voltou a sentir dores abdominais e retornou ao mesmo hospital, onde foi internada no dia 4 de setembro e passou por um novo procedimento cirúrgico, realizado por. Wilson, pois o médico da família não poderia atendê-la devido a um compromisso pessoal.

“A gente estava até planejando viajar no dia seguinte, quando ela passou mal. Ela estava gritando de dor. Foi quase desmaiando para o hospital”, disse a mãe.

Consta no inquérito policial que o médico não conversou com a família para explicar qual o procedimento seria realizado e que apenas a secretária dele comunicou à mãe os valores da intervenção cirúrgica. Segundo o documento, neste dia, foi realizada a CPRE, o que, segundo perícia, ocasionou a perfuração no intestino da adolescente.

“A cirurgia foi 11h e o médico só apareceu às 20h. Ela suava de tanta dor. Quando ele [médico] chegou, à noite, ele falou que nós estávamos descontroladas, que estava tudo bem com ela. A gente sabia que não estava”, contou a mãe.

Milleny Lopes Costa durante internação em hospital de Goiânia — Foto: Arquivo pessoal/Ruth Lopes

No dia seguinte, ao chegar para visitá-la, Ruthy relatou que o médico estava realizando outro procedimento no próprio quarto e sem a sua anuência. Segundo a mãe, mais uma vez, ele não a informou do que se tratava.

“O médico estava dentro do quarto como se fosse um centro cirúrgico, com todos os equipamentos e bandeja com instrumentos. Ele estava cortando a Milleny na altura do pescoço e não me informou nada. Quando terminou, ele não me explicou”, disse.

G1 solicitou um posicionamento ao Hospital Goiânia Leste, por e-mail enviado às 15h17, e aguarda um retorno.

Após o procedimento no quarto, Ruthy disse que entrou em contato por mensagem com uma médica conhecida avisando do ocorrido e que estava com medo de a filha morrer no local.

Milleny foi transferida em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) móvel em estado grave, no dia 5 de setembro, para o Hospital do Coração, também em Goiânia. Após novos exames, foi comunicado à família que a estudante precisaria passar por uma nova cirurgia.

Segundo a mãe, foi neste procedimento que a equipe médica constatou que o intestino da adolescente estava furado há dois dias e que o líquido estava se espalhando pelo corpo, o que causou uma infecção generalizada. Ela morreu no dia seguinte.

“Nós ficamos em oração. No outro dia, o pessoal do hospital ligou. Eu já sentia [que ela tinha morrido], não é fácil”, lamentou a mãe.

Os advogados da mãe da adolescente, Taysa de França e Melo Procópio e Tayrone de Melo, informaram que o principal objetivo do processo é a punição do médico que causou a morte da adolescente: “Esse profissional não pode sair impune”. A defesa afirmou ainda que vai ingressar com um pedido de suspensão do CRM do cirurgião.

Fonte: G1

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