Por que só um presidente faz uma ponte sair do papel no Rio Grande do Sul
Enquanto ouvia o discurso de Jair Bolsonaro, na Rádio Gaúcha, durante a cerimônia de inauguração da nova ponte do Guaíba, pensei na importância que ele e outros dois presidentes tiveram nessa obra. E o problema, por mais paradoxal que pareça, é justamente terem sido importantes demais. Vou explicar.
Dilma, lá atrás, foi quem comprou a ideia – botou uma montanha de dinheiro público no projeto. Depois do impeachment, Temer se comprometeu a levar a proposta adiante: chegou a aumentar o orçamento da obra. E Bolsonaro, por fim, deu prioridade à construção da nova ponte e conseguiu entregá-la ontem.
Tudo o que os três fizeram foi bom para o Rio Grande do Sul. Sem eles, jamais sairia do papel um projeto tão indispensável para o desenvolvimento do Estado. Só que esse é o ponto: um presidente não deveria ser fundamental para a construção de uma ponte. Não faz o menor sentido.
Aliás, faria sentido se o Brasil ainda fosse um império – num império, sim, o poder central arbitra e decide sobre tudo. Mas o Brasil, em tese, é uma federação. E, como em qualquer federação, uma unidade federativa como o Rio Grande do Sul deveria, em tese, ter independência administrativa e financeira. Não temos nada disso.
Por quê? Porque 60% de todo o bolo tributário do país, de todos os impostos arrecadados, é engolido por Brasília – e cada vez mais os Estados e municípios têm seus orçamentos loteados por leis federais. Aí, claro, para construir uma ponte ou qualquer estradinha, o quarto Estado mais rico do Brasil (que é o nosso) precisa sair mendigando para a Presidência.
É ridículo, é humilhante. É um absurdo com o qual convivemos há tanto tempo que nem sequer nos damos conta. E que fique claro: que bom, que maravilha que Bolsonaro deu continuidade à construção da ponte. A questão é que, por favor!, não é justo depender da boa-vontade de um presidente para a execução de uma obra local, que só interessa à ponta de baixo do país.
A solução todo mundo conhece: é a tal repactuação federativa, discutida há décadas – ela permitiria que uma fatia maior dos impostos que pagamos ficasse aqui, perto de nós. O próprio Bolsonaro se mostra favorável a isso: ele inclusive enviou ao Senado, no ano passado, uma proposta de emenda à Constituição, ainda sem prazo para ser votada.
Por enquanto, nos resta torcer para que o presidente, seja quem for, vá sempre com a nossa cara.
Fonte: GZH