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SECA EM SÃO PAULO: Técnico da Sabesp reconhece escassez e projeta Cantareira com menos de 20% de água em 2022

São Paulo já se encontra em estado de escassez hídrica por causa da falta de chuvas

São Paulo já se encontra em estado de escassez hídrica por causa da falta de chuvas,e a projeção é que o Sistema Cantareira chegue a menos de 20% de seu volume em julho de 2022, de acordo com o analista de sistemas da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Emerson Martins Moreira.

O presidente da Sabesp, Benedito Braga, porém, nega. “Ele não fala pela companhia. Não é essa a visão da companhia, de que o Cantareira pode chegar a menos de 20%, absolutamente não é”, afirmou ao G1.

A afirmação do técnico aconteceu durante o evento “Desafios para a Segurança Hídrica na Região Metropolitana de São Paulo”, promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IE-USP) na tarde desta terça-feira (17).

De acordo com uma projeção feita por ele, baseada na comparação com anos anteriores e no déficit da média de chuvas, o Sistema Cantareira pode chegar a 20% de sua capacidade em julho de 2022 (saiba mais abaixo). Nesta terça-feira (17), o Cantareira opera com 39,2% de seu volume, o que coloca o manancial em fase de alerta. Para ser considerado normal, o volume de um reservatório tem de estar com pelo menos 60% de sua capacidade.

“Estamos em um estado de escassez hídrica que não começou neste ano. Começou no final de 2019 e início de 2020. Todos os anos anteriores e também o período da crise hídrica foram períodos onde tivemos pouca pluviometria, exceção feita ao período final de 2018 e início de 2019”, afirmou Moreira.

Considerado o maior reservatório de água da região metropolitana, o Cantareira abastece cerca de 7,2 milhões de pessoas por dia.

Como mostrou o G1, de janeiro até 15 de julho deste ano, o reservatório teve apenas 61% de chuvas em relação à média histórica, um déficit de 39%, de acordo com dados da Sabesp.

“A crise se avizinha, mas não estamos ainda em estado de crise. Estamos com uma reserva hoje de 45% na região metropolitana. O Sistema Cantareira realmente é mais vulnerável, e a Sabesp vem poupando água do Cantareira já há algum tempo. A gente tem uma flexibilidade dos outros sistemas em atender áreas originalmente atendidas pelo Cantareira”, afirmou Moreira durante o evento.

No gráfico a seguir é possível observar como a afluência, quantidade de água que entra em um reservatório, diminuiu no Cantareira em relação à média histórica no último ano.

“Os últimos 12 meses de afluência do Cantareira estão muito abaixo da média. Exceto por dezembro de 2020, em todos os demais meses, tivemos uma afluência muito abaixo da média. Atualmente, está na ordem de 8 m³ ou 9 m³ por segundo, quando deveria estar em 23 m³ ou 24 m³ por segundo”, afirma.

O presidente da Sabesp, no entanto, disse que a análise de Moreira não considerou a transposição do rio Itapanhaú, que vai fornecer 2 mil litros de água por segundo para o Sistema Alto Tietê, que atualmente “ajuda” o Cantareira.

“O Cantareira atende hoje 7,2 milhões de pessoas e lá atrás atendia 9 milhões de pessoas. Podemos fazer operações para atender menos ainda. Isso [a análise de Moreira] é um estudo acadêmico feito na USP, não é a realidade dos fatos.”

“A gente pode fazer operações em que ele pode atender menos gente ainda. O sistema São Lourenço que abastecia a região oeste, já está entrando em Osasco e era atendido pelo Cantareira. O nível mais alto do Cantareira em 2013 não deixava mais confortável porque não tínhamos essas interligações. E as pessoas hoje estão consumindo mais racionalmente do que naquela época, que tinha vassoura hidráulica, o pessoal largava torneira vazando.”

De acordo com Braga, outro fator que diminui o risco de desabastecimento é que o consumo residencial atualmente é 12% menor do que em 2013.

“Já há uma cultura de economia, um sistema muito mais flexível e perspectiva de entrada de 2 mil litros de água por segundo, que pode abastecer uma cidade de 600 mil habitantes, como São Bernardo do Campo.”

Previsão é de mais seca

A projeção de Moreira a longo prazo mostra que o Sistema Cantareira pode chegar a 20% de seu armazenamento em julho de 2022.

O gráfico a seguir mostra três cenários. O de 2018, 2019 e 2020 é representado pela linha verde, o de 2013, 2014 e 2015, na época da crise hídrica, representado pela linha preta, e o último é o cenário esperado para o ano que vem, com base em uma projeção da média dos últimos 12 meses (linha azul).

Esses cenários indicam que o Cantareira, em particular, tem uma tendência de queda de armazenamento a longo prazo e deve cair mais até o final do ano, chegando a 20% em julho de 2022.

“Se não vierem chuvas, a gente deve ter problemas no futuro”, afirma Moreira.

As projeções do técnico da Sabesp confirmam o prognóstico do pesquisador Pedro Luiz Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).

“As previsões da Sabesp confirmam os prognósticos de que a crise vai ficar mais intensa. Elas apontam para uma redução significativa do nível do Sistema Cantareira em meados de 2022. Há grandes possibilidade de chegarmos à Faixa Especial,que é o nível mais restrito de uso daquele sistema.”

“Praticamente, isso reproduz o mesmo cenário da crise hídrica de 2014-2016. Em 2013, já havia uma redução importante do nível do Sistema Cantareira, e ela foi se acentuando em 2014, transformando uma crise hídrica em crise de abastecimento.”

De acordo com Benedito Braga, no entanto, o sistema de abastecimento da região metropolitana de São Paulo é muito mais flexível atualmente e não há risco de crise de abastecimento durante o inverno.

“Vamos usar os outros reservatórios para que não haja estresse tão grande no Cantareira. De outro lado, essas previsões, eu diria cenários, a gente vai atualizando semanalmente, então esses números mudam muito. Portanto não dá para dizer, e a companhia não está dizendo, que estamos prevendo o Cantareira com 20%”, afirma.

“Para este inverno, não temos problema. Temos de esperar a chegada do verão para poder então fazer uma previsão com um pouco mais de confiabilidade porque senão a gente cria uma perspectiva hoje que não vai acontecer. É muito difícil fazer essa previsão. Isso aqui são cenários que os técnicos fazem, analisam, mas não é uma posição formal nossa. Pelo contrário, a nossa posição é muito tranquila no dia de hoje porque nós fizemos todo o sistema de infraestrutura e transposições para nos dar essa tranquilidade de que não vamos ter uma crise.”

Para Moreira, a Sabesp aprendeu com a crise hídrica de 2014-2015.

“Nesse cenário todo, houve um aprendizado, houve políticas internas da Sabesp, políticas públicas que fizeram com que, hoje, a gente tenha muito mais segurança hídrica. Então, hoje, a Sabesp se coloca numa condição muito mais tranquila em relação aos desafios que, porventura, apareçam, uma eventual crise hídrica que se aproxima. Neste momento, em agosto de 2021, a gente ainda não está com o botão de emergência ligado. Nós estamos alertas, nós estamos em atenção, mas nós não estamos com o botão de emergência ligado.”

Côrtes não é tão otimista. Para o pesquisador, a situação atual é pior do que a de 2013, ano anterior à crise hídrica, o que aponta para a possibilidade de uma nova crise no ano que vem.

“É importante considerar que a população está economizando água e a Sabesp fez uma série de obras para evitar uma nova crise hídrica. Mesmo assim, o volume total armazenado hoje nos mananciais é apenas 79% daquele disponível em 2013, ano que antecedeu a crise. Nossa situação está pior. A verdade é que não estamos mais resilientes em relação ao clima”, afirma.

Faixas do Cantareira:

  • Atenção – volume útil acumulado igual ou maior que 40% e menor que 60%;
  • Alerta – volume útil acumulado igual ou maior que 30% e menor que 40%;
  • Restrição – volume útil acumulado igual ou maior que 20% e menor que 30%;
  • Especial – volume acumulado inferior a 20% do volume útil.

Obras

A Sabesp tem investido em obras para conter a possibilidade de crise de abastecimento. Uma delas é a Interligação Jaguari/Atibainha, que funciona há dois anos e meio.

Além desta, outra obra significativa é a da cidade de Vargem Grande Paulista, que pertence ao sistema São Lourenço e atende a uma parcela da região Oeste da região metropolitana e aos municípios de Cotia, Barueri, Osasco e Santana do Parnaíba.

Também existem obras que ainda estão em implantação, em particular a obra da transposição do Rio Itapanhaú, que vai bombear a água para o sistema Alto Tietê.

“E há as obras que já são obras mais espalhadas pela cidade, mas obras de infraestrutura, de flexibilização do sistema. Por exemplo, na alça Oeste, para que a água do Sistema São Lourenço atinja municípios mais distantes, estão sendo implantadas novas adutoras, que vão permitir a produção de até 6,4 m³ por segundo no horizonte de um ano, um ano e meio. Há obras menores, como reservatórios regionais e interligação de adutoras”, afirma Moreira.

A companhia também investe em redução de perdas até mesmo com ações de financiamento do Banco Mundial para acelerar o investimento, de acordo com o analista.

Fonte: JACidade

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