Educação

O ensino remoto veio para ficar?

A educação vem ganhando protagonismo em meio à crise do Covid-19. É indispensável fazer algo na área educacional face à situação da saúde. Não é difícil ver que não há uma solução ideal para este momento, seja em nossa cidade, seja no Brasil,e mesmo no mundo. Caminhamos em busca de respostas que estão sendo construídas coletivamente.

Atualmente fala-se em Ensino Remoto Emergencial (ERE). Segundo Charles Holges et al. (https://er.educause.edu/articles/2020/3/the-difference-between-emergency-remote-teaching-and-online-learning#fn1) trata-se de uma “mudança temporária” para enfrentar a crise. Envolve um ensino totalmente remoto para substituir o presencial. Assim que a crise ou emergência tiver diminuído voltaremos aos cursos presenciais combinados ou híbridos com o ensino remoto.

A opção para este momento vem sendo o ensino remoto. Não se trata do Ensino à distância – EaD, regulamentado por leis e decretos há décadas. O que as escolas, universidades, faculdades e institutos de ensino propõem-se realizar é o Ensino Remoto Emergencial (ERE), que se assemelha à EAD apenas no que tange ao uso de tecnologias. É uma solução provisória para a aprendizagem em momento de crise.

Está sendo feito o possível para salvar o ano letivo de 2020. De forma emergencial e com pouco tempo de planejamento e discussão, professores e gestores de escolas públicas e privadas, da educação básica à superior, procuram adaptar currículos, conteúdos e atividades. Desafio imenso. A mudança exige que os professores assumam o controle do processo de criação, desenvolvimento e implementação de cada aula. Esses professores necessitam de apoio para desenvolver habilidades a trabalhar e ensinar num ambiente online.

Diante da suspensão das atividades escolares em seu espaço físico, local ideal para a aprendizagem e para a interação, urge dialogar com as diferentes plataformas digitais e reinventar outra forma de ensinar e aprender. Não se sabe o quanto é possível que a prática pedagógica alcance qualidade e atinja o aluno no ambiente de seu lar, onde tantas outras atividades concorrem para a distração.

Uma grande preocupação é pensar sobre a forma como o ensino remoto chegará às comunidades mais carentes e à educação infantil. A Unesco, em seu site oficial, publicou no dia 21 de abril do corrente ano: “Metade do número total de alunos (cerca de 826 milhões – mantidos fora da sala de aula pela pandemia do Covid-19), não tem acesso a um computador doméstico e 43% (706 milhões) não têm internet em casa (…)”. O estudo que trata do professor segue informando: “63 milhões de professores primários e secundários são afetados pela perturbação sem precedentes causada pela pandemia do Covid-19, com o fechamento de escolas em 191 países.

Quanto à educação infantil, uma análise documental, segundo o Movimento Interfóruns de Educação Infantil no Brasil (MIEIB) e também o Fórum Paulista de Educação Infantil (FPEI) revê a aplicabilidade de tal proposta às idades mais tenras. Há de considerar como interface o conceito de infância e a proposta interacional do currículo destinado a esta faixa etária. A proposta para a educação infantil em nosso país contempla ações culturais, artísticas, científicas, ambientais e tecnológicas promovendo o desenvolvimento integral destas crianças. Assim, faz-se necessário que tais propostas estejam alinhadas com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, visto que a interação da criança pequena no ambiente virtual é bastante passiva. Sempre é bom lembrar que, de acordo com a nossa lei de diretrizes e bases, a educação infantil é a que se destina a crianças de até cinco anos.

Tais documentos consideram que propostas permitindo a legitimação de ações educativas como educação domiciliar, ensino remoto e sistemas apostilados, dentre outras, reforçam ainda mais as desigualdades sociais e educacionais entre as crianças e suas famílias e devem ser evitadas para garantir o direito à educação de todos no Brasil.

Por outro lado, a possível necessidade de ensino remoto para as faixas etárias seguintes à infantil deve tornar-se parte das competências dos educadores. Os desafios vividos com a emergência do Covid-19 talvez criem a oportunidade para avaliar como foi vivida a experiência do ensino remoto emergencial para manter a continuidade do processo educacional. Um planejamento cuidadoso deverá levar à avaliação dos esforços, levantando pontos fortes e fracos para necessidades futuras da utilização desse tipo de ensino, o que levanta a pergunta: o ensino remoto veio para ficar?

Como registrado no início deste texto, caminhamos em busca de respostas que estão sendo construídas coletivamente, o que nos faz recorrer à célebre frase do poeta espanhol Antonio Machado: “Caminhante,não há caminho, se faz caminho ao andar”.

Maria Eugênia Castanho é doutora em educação pela Unicamp e membro-fundadora do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.

Warlen Fernandes Soares é pedagoga, especialista em Psicopedagogia (PUC-CAMPINAS) e em Educação Especial (UNISAL), mestre em Educação (PUC-CAMPINAS) e professora na rede municipal de ensino.

Fonte: O Municipio

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