O homem que caiu da ponte…
A Companhia Brasileira de Projetos e Obras – CBPO recém-criada (1967) foi a empreiteira responsável por tocar umas das principais obras no estado, a rodovia Castelo Branco, a obra que chegou a ser considerada umas das mais importantes da época, e a ponte sobre o Rio Tiete no km 24,5 em Barueri foi umas das etapas mais complexas e perigosas.
O ano era 1968, um dos trabalhadores responsável por levar água aos demais, conta que haviam chegado cerca de 200 braçais dos estado de Minas Gerais, especificamente para trabalhar na construção da ponte, e os poucos paulistas no canteiros da obra eram os encarregados, o apontador e o bombeiro.
Numa época em que não havia uma politica bem definida na prevenção de acidentes, somados a tecnologia inferior aos dias atuais, muitos trabalhadores sofriam acidentes e muitas vezes fatais.
Devido à complexidade da obra, e o elevado numero elevado de trabalhadores num espaço reduzido e insalubre, isso somados a extensão de 448 metros, 17,4 metros de largura e um vão livre de 140 metros, tornava o ambiente hostil, uma boma relógio, mesmo assim a rotina era extenuante.
Naquele dia sol estava incandescente, não havia uma sombra sequer, o trabalho estava muito acelerado, lá no alto uma gigantesca caixa com aço entrelaçado recebia o concreto transportado em carinhos de mãos, também conhecidos como “Giricos”, esses eram empurrados pelos operários numa imensa fila indiana alimentada por cerca de 30 homens, cada um que chegava a beira do abismos virava despejando o carrinho cheio de concreto, saiam rapidamente para dar caminho para o que vinha logo atrás, e tudo funcionava como os ponteiros de um relógio, eram milhares de metros cúbicos de concreto alimentado a imensa caixa, parecia não ter fim, era um verdadeiro formigueiro, o suor e o cansaço era inevitável.
“Uma figura de destaque e muito esperada era o “Agueiro” ou Bombeiro” assim era conhecido o trabalhador que levava água para os operários em duas botijas, geralmente essa água era retirada de uma nascente nas proximidades da obra.
Já passava do meio dia, muitos operários já haviam voltado ao trabalho, quando la do alto se ouve , naquele instante um grito alto ecoou longe, “CAIU, CAIU” UM HOMEM CAIU”, seguido de um estrondo, logo todos correram para a beira do buraco, do alto dava pra se avistar parte da roda do girico e do corpo sendo tragado, a cena foi muito triste, aconteceu que um dos trabalhadores que virava o carrinho de concreto na ultimo pilar, não se sabe se por motivo de distração ou cansaço, foi empurrado pelo girico que vinha logo atrás, despencando para dentro do imenso pilar com carrinho e tudo, e aos poucos ja sem se debater foi sumindo por entre as ferragens e no concreto ainda fresco;
Logo vieram os responsáveis afastando todos para outro ponto da obra, por uma momento um grande silencio tomou conta, o medo, o cansaço e a tristeza se misturava em cada semblante, horas depois a noticia que corria pelo canteiro era que o mineiro já havia sido retirado, muito embora não havia um só par de olhos o meio daquela multidão que pudesse testemunhar ou descrever como o corpo havia resgatado.
Depois da obra concluída, muitos trabalhadores ficaram morando e constituíram famílias na cidade, muito provável que seus descendentes, filhos e netos já ouviram essa estória, que virou mais uma lenda urbana da nossa amada Barueri.
O “agueiro” foi um dos que ficaram por aqui, e conta que foram raras as vezes que ele desejou passar por aquelas bandas, pois ainda da pra ouvir o grito ecoado no concreto da ultima pilar sentido são Paulo..
Por: Marco Antonio (Marcão)