Se eu morrer de manhã…
“Se eu morrer de manhã
Abre a janela devagar
E olha com rigor o dia que não tenho
Não me lamentes. Eu não me entristeço.
Ter tido a morte é mais do que mereço
Se nem conheço a noite de que venho.
Deixa entrar pela casa um pouco de ar
E um pedaço de céu
O único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
Que não saber voar
Foi sempre a minha lei.
Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que não venho,
E do mistério nada te direi.
Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
Pois não estar é da morte quanto sei…”
Rosa Lobato de Faria
In “Poemas Escolhidos e Dispersos”