Silêncios que falam
Não te entregues a mim.
Eu sou inconstante, um poço de emoções dispersas… sou um enigma.
Por vezes, falo até o que não devia, outras, sou um silêncio tão pesado que sufoca.
Não te entregues a mim.
Eu sou uma bagunça de sensações difíceis de traduzir.
Posso ser a tempestade que rasga o teu céu e, em um instante, ser a brisa suave que acaricia a tua pele.
Não te entregues. Olha bem para dentro de mim!
Não tenho nada que tu possas agarrar. No meu peito, há espaços vazios,
um abraço em falta, e um coração que já não pulsa da mesma forma.
Não te entregues a mim.
Às vezes sou doce,
mas na maioria dos dias, sou o azedume que transborda do copo.
Parece que o sol nasce amargo, e com ele, tudo que eu toco se torna cinza.
É a minha armadura, minha defesa, e talvez a tua prisão.
Não te entregues.
Não sabes o quanto é difícil enfrentar essa minha leveza de existir,
esse impulso de doação que me atravessa e me quebra,
disfarçado de um “não sei bem o que sinto”.
Não te entregues a mim, nem tentes.
Há dias em que sinto que posso mover montanhas,
e outros, em que sou apenas uma sombra sobre o chão.
Há tardes que me perco na solidão das palavras,
e outras, que as palavras me escapam como água entre os dedos.
Vês?
Sou um labirinto sem saída.
Nunca saberás o que me preenche ou o que me desilude,
porque, na verdade, eu mesmo sou uma incógnita.
Não te entregues a mim. Não sou um reflexo do que esperas.
Não deixo corações em redes sociais;
escrevo-os nas entrelinhas do silêncio.
Poeta Estrábico