Eleições municipais e organizações criminosas estão cada vez mais juntas
Tudo começou em abril de 2000, através de Antônio José Muller Júnior, o Granada, integrante da cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital), hoje preso. O resto é história que infelizmente só cresce.
Hoje, segundo o Estadão, um a cada 4 passageiros de ônibus da cidade de São Paulo é transportado por companhias que foram ou estão sendo investigadas por ligações de acionistas com o crime organizado.
Melhor Caminho
“Se o PCC conseguir eleger um deputado federal terá apenas um entre 513 parlamentares. É muito mais interessante para seus integrantes ter acesso às Câmaras Municipais, onde são discutidos os contratos da coleta de lixo, as regras do transporte público e do uso e ocupação do solo” , disse o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação e Repressão do Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo.
As investigações do MP-SP apontaram Granada como líder da máfia dos perueiros que cobrava uma espécie de “taxa de manutenção” de cada condutor. Quem não pagasse era ameaçado de morte. O criminoso do PCC é investigado pelo desaparecimento de três perueiros. Granada foi condenado a 30 anos de prisão.
O crime organizado está se infiltrando na administração pública e na vida política, elegendo representantes insuspeitos, alerta o desembargador aposentado e ex-secretário nacional antidrogas, Walter Maierovitch:
“Toda máfia, ou pré-máfia, é parasitária. Além de se infiltrarem no transporte público em São Paulo e em outras cidades do Estado, integrantes do PCC também teriam capturado contratos da área da saúde, da coleta de lixo e buscaram influenciar o uso e ocupação do solo em áreas de preservação ambiental. para tanto, apoiaram ou financiaram candidatos nas eleições de 2016 e de 2020”.
Transporte em São Paulo
Mensagens no telefone celular do ex-diretor da empresa de ônibus Transunião, Adauto Soares Jorge mostram, segundo a Polícia, a existência de pagamentos semanais de R$ 70 mil, feitos por meio do caixa da companhia, ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O caso está sob sigilo de Justiça. Adauto foi assassinado. A Transunião foi fundada pelo vereador Senival Moura (PT), líder da oposição na Câmara Municipal de São Paulo. Ela tem 467 ônibus em sua frota e opera em dois lotes do sistema de transporte público de São Paulo. Senival Moura era um líder entre perueiros da capital nos anos 2000.
Em Campinas não é diferente
O Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), encontrou provas do domínio do Primeiro Comando da Capital (PCC) sobre o transporte público de Campinas, terceira maior cidade do Estado.
O MP chegou às informações por meio dos telefones celulares de Claudemir Antonio Bernardino da Silva, o Guinho. Condenado a 21 anos de prisão por tráfico de drogas, ele é sobrinho de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, líder do PCC. Com mais de 1 milhão de habitantes, Campinas é o centro de uma região que abriga um dos maiores complexos prisionais de São Paulo, dominado pelo PCC.
E Cotia?
Os casos mais recentes e notáveis são dois:
Tim, o previdente
Uma busca realizada em uma casa em Taboão da Serra foi o início de tudo. A investigação contra ladrões de residências de luxo encontrou drogas e uma lista de contatos do PCC.
A análise do que foi apreendido na casa levou os investigadores a três nomes de suspeitos. Um deles, Jovino Ribeiro de Freitas Neto, 51 anos, é mais conhecido como Tim. Ele foi eleito parlamentar da Câmara Municipal de Cotia em 2016. Na última eleição, Tim ficou com uma vaga de suplente pelo Partido Verde. A polícia já decidiu que vai indiciar o suplente a vereador por integrar uma organização criminosa. Em janeiro, a Justiça autorizou a polícia a vasculhar sua casa. Para surpresa da polícia, ele tinha se mudado um dia antes. Ficaram para trás bobinas e anotações de jogo do bicho e de caça níqueis e alguns buracos abertos pelo jardim. Veja AQUI.
A morte do Parque das Nascentes
Ainda segundo o MP, com base nos elementos colhidos em investigação, também presidida pelo Gaeco, identificou-se uma organização criminosa que atua desde meados de 2018 no Parque das Nascentes, em Cotia.
“De acordo com a apuração, o local apresenta grande relevância ambiental por abarcar 13 nascentes e respectivos cursos d´água. Trata-se de Área de Preservação Permanente (APP). Todavia, a região tem sido alvo da organização criminosa investigada, que passou a implantar loteamentos clandestinos. Para tanto, utiliza-se de mecanismos agressivos de desmonte ambiental, o assim denominado “correntão”. Apurou-se, ainda, que o êxito da atividade criminosa depende da conivência e participação de agentes públicos e políticos, que ocorre por meio de atos de corrupção.”, diz a denúncia do GAECO ao MP-SP.
O caso agora se encontra em segredo de justiça. Na cópia que o Site da Granja teve acesso, a palavra “Cotia” aparece 1.460 vezes. Escutas interceptadas pelo GAECO indicam negociatas e pagamentos feitos a diversos agentes policiais, membros doa poderes legislativo e executivo da prefeitura, incluindo secretários e vereadores.
Assassinato
Um dos fatos recentes deste caso foi do policial civil Elias Barbosa dos Santos, que foi preso e encontrado morto três dias depois em Junho do ano passado, no presídio especial da Polícia Civil, zona norte da capital paulista. Ele foi preso durante a Operação Nerthus, sobre o loteamento clandestino Parque das Nascentes.
De acordo com as investigações, o policial civil recebia supostas propinas dos acusados para evitar investigações e facilitar o loteamento de áreas preservação permanente na cidade. “Para o êxito dos delitos, é imprescindível a infiltração da organização criminosa nas entranhas do poder público municipal, que se vale da espúria e nefasta cultura social brasileira de pagamento de propina a servidores públicos. Neste caso, destaca-se o pagamento de vantagens indevidas a policiais civis, militares, assessores da prefeitura, dentre outros nichos ainda não identificados”, aponta o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) na denúncia.
Em São Paulo, o PCC a começou a impor vetos à presença de cabos eleitorais de adversários em comunidades dominadas facção na eleição de 2020 em cidades como Campinas e Praia Grande. Para os investigadores, esse cenário pode se ampliar nas cidades em volta da capital em 2024.
A relação da presença do PCC e a criação de loteamentos clandestinos na última década em áreas de mananciais e de Mata Atlântica é evidente.
É este o cenário que faz as eleições de 2024 serem tão importantes para o crime organizado. E para nós.
Fonte: Granja Viana