Bolsonaro discursa em atos pedindo a volta da ditadura militar; Autoridades e especialistas repudiam
Políticos e entidades se posicionaram neste domingo (19) sobre a participação do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em um ato em Brasília que defendia medidas ilegais, como a intervenção militar.
Em cima de uma caminhonete, Bolsonaro discursou em frente ao Quartel-General do Exército e na data em que é celebrado o Dia do Exército. Dezenas de simpatizantes se aglomeraram para ouvi-lo, contrariando as orientações de isolamento social da Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a propagação do coronavírus.
Entre os apoiadores do presidente, alguns carregavam faixas pedindo “intervenção militar já com Bolsonaro”. As faixas tinham o mesmo padrão e pareciam ter sido feitas em série.
Em resposta, Governadores de 20 estados divulgaram uma carta de apoio ao Congresso, numa reação aos últimos ataques do presidente Jair Bolsonaro ao Parlamento. O documento afirma que as declarações do presidente afrontam princípios democráticos.
Os governadores destacam a “dedicação especial” dos presidentes da Câmara e do Senado em relação aos estados e municípios, no enfrentamento da crise com o novo coronavírus e que a ação coordenados dos entes da federação tem sido pautada na Ciência e na experiência de outros países que já enfrentaram a fase mais crítica da pandemia.
“Ambos demonstram estar cientes de que é nessas instâncias que se dá a mais dura luta contra nosso inimigo comum, o coronavírus, e onde, portanto, precisam ser concentrados os maiores esforços de socorro federativo”, diz o texto.
“A saúde e a vida do povo brasileiro devem estar muito acima de interesses políticos, em especial nesse momento de crise. Não julgamos haver conflitos inconciliáveis entre a salvaguarda da saúde da população e a proteção da economia nacional, ainda que os momentos para agir mais diretamente em defesa de uma e de outra possam ser distintos”, diz a carta, na qual os governadores defendem a necessidade do diálogo “democrático e desprovido de vaidades” para superar eventuais diferenças.
Políticos e especialistas em direito viram na atuação de Bolsonaro indícios de crime de responsabilidade, que pode levar à perda do cargo. Dois ministros do Supremo criticaram os protestos em declarações nas redes sociais. “É assustador ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia”, escreveu o ministro Luís Roberto Barroso. “Só pode desejar intervenção militar quem perdeu a fé no futuro e sonha com um passado que nunca houve. Ditaduras vêm com violência contra os adversários, censura e intolerância. Pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso”, escreveu, em sua conta no Twitter. Para o ministro Gilmar Mendes, “invocar o AI-5 e a volta da ditadura é rasgar o compromisso com a Constituição e com a ordem democrática”, afirmou. “A crise do coronavírus só vai ser superada com responsabilidade política, união de todos e solidariedade”.
Maia, a quem cabe barrar ou permitir a entrada de pedidos de impeachment do presidente para análise no Congresso, repudiou a pauta do protesto e afirmou que, em meio ao aumento de vítimas da covid-19 no Brasil, não dá para perder tempo com “retóricas golpistas”. “São, ao todo, 2.462 mortes registradas no Brasil. Pregar uma ruptura democrática diante dessas mortes é uma crueldade imperdoável com as famílias das vítimas e um desprezo com doentes e desempregados”, declarou, por meio do Twitter. Há quase uma dezena de pedidos de destituição contra Bolsonaro, mas o presidente da Câmara tem dito que, por enquanto, não vê motivos para dar o sinal verde a eles.
Fontes: G1, O Globo e El País