“Tudo indica que Bolsonaro substituirá Pazuello na saúde em um momento ‘próximo'”, diz Mourão
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou nesta terça-feira (14) que “tudo indica” que o presidente Jair Bolsonaro substituirá o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, em um “momento próximo”.
Mourão deu a declaração em uma entrevista ao Jornal das Dez, da GloboNews.
General da ativa do Exército, Pazuello era o secretário-executivo do ministério e passou a responder pela pasta em maio, quando Nelson Teich, então ministro, pediu demissão.
Em 3 de junho, Pazuello foi oficializado por Bolsonaro como ministro interino da Saúde. Conforme o presidente, Pazuello permaneceria no cargo “por muito tempo“.
“Ele [Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo] compreendeu que o ciclo dele dentro da força havia se esgotado […] e que era o momento de ele passar para a reserva, que para nós, que fomos soldados a vida de inteira, é um momento doloroso. Já o caso do Pazuello é diferente, ele é interino. Está há dois meses no cargo. Tudo indica que, em um momento próximo, o presidente vai substituí-lo”, declarou Mourão nesta terça-feira.
De acordo com o colunista do G1 e da GloboNews Gerson Camarotti, generais da ativa e da reserva avaliam que Pazuello precisa definir rapidamente o futuro dele.
Segundo generais ouvidos pelo Blog do Camarotti, o ministro interino deve escolher se pede transferência imediata para a reserva ou se deixa o Ministério da Saúde.
No último fim de semana, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que o Exército se associou a um “genocídio” na gestão da pandemia. Nesta quarta (14), afirmou em nota que respeita as Forças Armadas, mas que não cabe aos militares formular políticas públicas de saúde, ainda mais em um momento de pandemia.
Diante da declaração do fim de semana, o Ministério da Defesa protocolou uma representação na Procuradoria Geral da República (PGR) contra Gilmar Mendes.
Política e Forças Armadas
Ainda na entrevista à GloboNews, Mourão afirmou também que “política dentro de quartel não é algo que seja saudável” para o que ele vê como “pilares” das Forças Armadas: “hierarquia e disciplina”.
O vice-presidente disse, então, que o governo tem tentado “deixar muito claro” que há separação entre as Forças Armadas e o Poder Executivo.
“Não queremos trazer as forças, efetivamente, para dentro do governo. Nós não queremos a política indo para dentro dos quarteis e a discussão ‘eu apoio o presidente’, ‘eu sou contra o presidente’, independentemente de ele ser um militar, um antigo militar ou não”, acrescentou.
Combate ao desmatamento
Mourão preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal. Na entrevista desta terça, foi questionado por que o governo mantém Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente em meio à pressão internacional para que o Brasil combata o desmatamento e reduza as queimadas.
Sem mencionar nomes, Mourão disse que “buscam usar a temática ambiental” para “cercear” o avanço econômico do Brasil.
Na reunião ministerial de 22 de abril, cujo conteúdo se tornou público em maio, Salles sugeriu a Bolsonaro aproveitar que a atenção da imprensa estava voltada para a crise do coronavírus e “passar a boiada” e mudar regras.
“Temos 18 meses de governo e não foi nesses 18 meses que a floresta amazônia foi desmanchada ou destruída, como vem sendo colocado. Essa questão do avanço do desmatamento vem de 2012 para cá, não é privilégio único e exclusivo do governo Bolsonaro. Não negamos que no ano passado houve um aumento, digamos assim, fora da curva das ilegalidades. O que acontece é que o Ricardo Salles entrou em choque com a estrutura estabelecida dentro do ministério”, comentou Mourão.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), houve recorde nos alertas de desmatamento na Amazônia em junho.
O vice-presidente ainda comentou a carta assinada por ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central na qual eles defenderam retomada da economia com preservação ambiental. Para Mourão, a carta contém pontos “extremamente pertinentes”.